domingo, 10 de março de 2013

Perigo real

Autor de livro que tratava dos riscos da BR-381 morreu na estrada

Oswaldo França Júnior morreu em 1989. Obra inspirou filme e seriado na televisão

Paulo Henrique Lobato - Encontro

Publicação: 10/03/2013 00:12 Atualização: 10/03/2013 07:29

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O cinema e a literatura se renderam às armadilhas da BR-381. Por ironia, o autor da ficção mais famosa a tratar dos perigos da estrada morreu num desastre na Rodovia da Morte. Em 1967, o mineiro Oswaldo França Júnior publicou Jorge, um brasileiro, cujo enredo é a saga de oito caminhoneiros numa viagem do Vale do Aço a Belo Horizonte. No fim do romance, ele alertou os leitores: “Perto de Monlevade, entramos na estrada nova e começamos a correr. Tive que me lembrar e diminuir aquela correria, porque com carros pesados como estavam aqueles, isso não era coisa boa”. Vinte e dois anos depois, o Escort que o romancista dirigia rodou na pista e despencou numa ribanceira, de 60 metros, perto de Monlevade.

França Júnior tinha ido à cidade para um encontro cultural. Seu romance, no ano da publicação, fora contemplado com o Walmap, o principal prêmio de literatura da época. Dois dos jurados foram Guimarães Rosa e Jorge Amado. Um ano antes de o escritor morrer, Jorge, um brasileiro foi destaque no cinema. Levado para a telona em 1988, o filme foi estrelado por Carlos Alberto Riccelli. O sucesso do romance inspirou ainda o seriado Carga pesada, exibido na TV Globo. Poucas mudanças significativas ocorreram na estrada desde a morte do escritor, em junho de 1989, quando a 381 era chamada de 262.

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Depoimento
Carlos Herculano Lopes
Repórter, autor do livro poltrona 27, em que relata viagens pela 381

A notícia da morte de Oswaldo França Júnior chegou rapidamente às redações dos principais jornais do Brasil. Eu estava de plantão no Estado de Minas naquela tarde de sábado. Ficamos comovidos. Todos os meses sou obrigado a encarar a BR-381 até o trevo de Itabira para viajar a Coluna, no Vale do Rio Doce. Confesso que vou com o coração na mão. Teve uma noite, voltando de Santa Marta, em que o caos começou no trevo de Caeté, onde uma carreta, lotada de carvão, tinha virado no meio da estrada, causando a morte de duas pessoas. Quando conseguimos passar, estavam acabando de tirar o corpo do motorista das ferragens. Tinha sangue por todo lado. O outro, de uma mulher, já estava estendido no acostamento, sem nada que o protegesse. É por isso que prefiro ir de ônibus. Quando acontece de viajar em ‘carro baixo’, como se diz por aquelas bandas, chego tenso, devido a tantas barbaridades que vejo na estrada. Constatei não valer a pena. Pelo menos, no ônibus, normalmente na poltrona 27, por costume antigo, me poupo desses dissabores. Sempre me benzo antes de sair de casa, pedindo a Deus e a Nossa Senhora Aparecida, cuja medalhinha carrego no peito, que me tragam de volta e não deixem que eu seja um número a mais na triste estatística das mortes.

Corredor de tragédias
Cinco acidentes que marcaram a BR-381:


2/08/1993
Uma batida de frente entre um ônibus da Gontijo e um da Pássaro Verde, próximo a João Monlevade, matou 21 pessoas. A colisão foi tão violenta que algumas vítimas tiveram a cabeça decepada. A cena de horror chocou até os experientes homens do Corpo de Bombeiros e da PRF que atenderam a ocorrência.

21/02/1996
Um ônibus da viação São Geraldo, que fazia a linha Marataízes (ES) a Belo Horizonte, despencou da ponte sobre o Rio Engenho Velho. No total, 31 pessoas morreram e 16 ficaram feridas. O coletivo transportava foliões que haviam ido curtir o carnaval no litoral capixaba.

26/12/2002
Próximo a Bom Jesus do Amparo, um Kadett que seguia em direção a Vitória não conseguiu fazer a curva do km 396. O veículo invadiu a contramão e colidiu com uma carreta. Os quatro ocupantes do veículo de passeio morreram no local. O mais velho tinha 29 anos.

17/02/2005
Uma van da Prefeitura de Sabará rodou na pista, perto de Ravena, e bateu num caminhão de refrigerantes. Três passageiros, sendo dois secretários municipais, morreram no local. O veículo de carga ficou atravessado na pista, provocando congestionamento de 30 quilômetros.


11/03/2009
Um caminhão perdeu o freio na descida do km 30, invadiu a contramão e acertou em cheio uma van que levava universitários (foto). O motorista do escolar e cinco estudantes morreram. O grupo morava em Caeté e estudava na capital. No local, hoje, há um radar eletrônico, mas o equipamento é insuficiente para evitar desastres.

Fonte: Estado de Minas

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