sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Desfile de omissão e imprudência

Estado praticamente repete balanço do pior carnaval da história e, mesmo com bom tempo que criou expectativa de menos violência nas estradas, registra 45 mortes no recesso. Rodovias federais, que continuaram matando ontem, têm 76% das obras paradas

Pedro Ferreira

Publicação: 24/02/2012 04:00

res20120223233747263484eMotorista do Corolla não conseguiu desviar de tambor que indicava obras na pista, perdeu o controle e bateu em caminhão: três mortes logo pela manhã

As condições do tempo até ajudaram. Mas o carnaval nas estradas mineiras, que ao contrário do ano passado tiveram um feriadão de poucas chuvas, praticamente repetiu o desastroso recesso de 2011, considerado o mais violento da história, com 46 óbitos. Entre a sexta-feira e a quarta-feira de cinzas 45 pessoas perderam a vida nas rodovias federais e estaduais da maior malha viária do país. Uma carnificina que tende a continuar, caso seja mantido o quadro de desleixo que impera nas rodovias federais que cortam o estado, nas quais 76% dos contratos de reforma e manutenção – a cargo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) – nem sequer saíram do papel. A medida do abandono pode ser dada pela situação de uma das principais vias que cortam a capital, o Anel Rodoviário, onde a autorização para uma obra necessária desde 19 de dezembro só foi assinada anteontem, o que levará a intervenção a consumir mais 60 dias, repetindo na semana santa o caos registrado nos últimos dias.

Durante o carnaval nada menos que 24 pessoas morreram nas rodovias federais que cruzam o território mineiro. O número chegou a ser apresentado como um avanço, já que houve queda de 20% em relação ao feriado de 2011, quando houve 30 mortes. Mas a realidade das estradas cuidou de desafazer qualquer clima de otimismo: pouco depois que a Polícia Rodoviária Federal encerrou a Operação Carnaval, à 0h de ontem, as mortes continuaram avançando nas BRs. Às 4h, foram mais duas vítimas, no acidente entre um ônibus de turismo e um caminhão carregado de carvão, no km 474 da BR-040, saída de Sete Lagoas, na Região Central do estado, sentido Belo Horizonte. Os 41 feridos foram atendidos no Hospital Municipal de Sete Lagoas.

Pouco depois, no km 743 da BR-040, próximo a Santos Dumont, na Zona da Mata, o choque frontal entre um Corolla e um caminhão-baú matou os três ocupantes do carro de passeio. O acidente ocorreu por volta das 9h30, quando o motorista do Corolla placa JGM 5535, de Brasília, que seguia no sentido Belo Horizonte, foi surpreendido pela sinalização de obras na pista, bateu em um tambor, perdeu o controle do veículo e colidiu de frente com o caminhão placa GKS 3956, de Barbacena. Os mortos foram identificados como César Ferreira Aguiar, de 28 anos, Anazélia Ferreira Soares Aguiar, de 51, e Larissa Keler Américo Damasco, de 23.

Dados relativos a esses desastres não entram nos balanços divulgados ontem pelas polícias Rodoviária Federal (PRF) e Militar Rodoviária, relativos às operações deflagradas entre os dias 17 e 22. No período, 738 pessoas ficaram feridas, em 968 acidentes. Apesar da queda nas estradas federais, especialistas consideram altos os dados registrados em Minas. O presidente da organização não governamental SOS Rodovias Federais, José Aparecido Ribeiro, avalia que os números de óbitos, feridos e acidentes continuam em patamares excessivos. Para ele, as mortes poderiam ser evitadas se as rodovias federais fossem duplicadas e com pistas independentes, o que evitaria colisões frontais, principal causa das tragédias.

“Precisamos ter rodovias seguras para proteger os prudentes dos imprudentes”, disse, lembrando que São Paulo tem 20 milhões de carros e índices de acidentes com mortes menores que em Minas, com 7,8 milhões de veículos. “A malha rodoviária de Minas tem 60 anos. A indústria automobilística evoluiu, os carros são cada vez mais potentes e as rodovias continuam as mesmas. Há um conjunto de fatores para os acidentes, mas, no discurso oficial, só vale a imprudência”, disse.

BRASIL

No país, as mortes em rodovias federais caíram de 216, no carnaval de 2011, para 176, este ano, redução de 18,5%. O número de feridos caiu 25,6% e, de acidentes, 22,4%. Para a diretora geral da PRF, inspetora Maria Alice Nascimento Souza, o resultado deve-se ao aumento da fiscalização nas estradas, com remanejamento de efetivo para estados onde o trânsito é mais intenso. Mesmo assim, a inspetora admite que o quadro está longe do ideal. Para ela, se houvesse mais policiais na PRF, a violência nas estradas poderia cair. A inspetora anunciou concurso para este ano, com mais 1,5 mil vagas para vários estados, incluindo Minas, que tem a maior malha viária do país.

Segundo balanço da PRF nas rodovias federais em todo o país, houve aumento do número de mortes em 17 estados. Em 12, houve redução de todos os indicadores (acidentes, mortes e feridos), entre eles Minas, que teve maior redução em acidentes e feridos. Em 22 estados houve redução de acidentes e, em 11, de mortes.

O número de acidentes nas estradas federais brasileiras caiu de 4.312 para 3.345 (redução de 22,4%). De acordo com Maria Alice, desde a entrada em vigor do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), há 14 anos, não havia queda tão significativa nos índices.

Fonte: Estado de Minas

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...