domingo, 18 de outubro de 2009

2009.10.18 - Impunidade favorece tragédias nas rodovias - Jornal Hoje em Dia

Cláudia Rezende - Repórter - 18/10/2009 03:10

Os 27 mil quilômetros de estradas estaduais e federais sob administração do Estado e os 7 mil quilômetros de trechos sob responsabilidade da União são o palco das tragédias viárias que acontecem em Minas Gerais. Maior malha rodoviária, grande fluxo de veículos e maior número de acidentes.

Para completar, o Estado deveria ser acompanhado de outro título, o de ter a maior fiscalização nas estradas, mas não é bem assim. Nas vias do Governo federal, são 700 policiais, 130 viaturas e 36 radares móveis para fazer o monitoramento. Nas estaduais, no último feriado, foram destacados 2.348 homens, 903 viaturas e 18 radares para vigiar o tráfego.

O efetivo não é suficiente, conforme o inspetor Aristides Amaral Júnior, da Polícia Rodoviária Federal (PRF). "Existe carência de estrutura em todo o país. Para ficar bom, deveria, pelo menos, triplicar o número", disse. A PRF não divulga o número de autuações realizado pelas equipes durante as operações do feriado, mas, na Polícia Rodoviária Estadual (PRE) foram 4.717, sendo que 23 pessoas foram presas bêbadas e 28 carteiras recolhidas.

Para o coordenador do Núcleo de Transportes da Escola de Engenharia da UFMG, professor Ronaldo Gouvêa, a saída para reduzir as tragédias nas estradas é o investimento na fiscalização. "Você vai daqui ao Espírito Santo sem ver um policial. A impunidade é que leva à imprudência", destacou.

Segundo ele, a falha humana está ligada à falta de vigilância. "A gente chama de acidente, mas as estradas estão cheias de crimes. Acidente é involuntário, mas, se uma pessoa está a 140 quilômetros por hora, não é acidente, é crime, porque sabe que está colocando a vida em risco", ressalta.

Por não ter sido punido devidamente, o motorista de um Uno, de São Tomás de Aquino, no Sul de Minas, teria provocado, na última segunda-feira, a morte de quatro pessoas da mesma família, além da dele mesmo. O acidente foi na MG-050, em São Sebastião do Paraíso. O genro de uma das vítimas, o comerciante Rodrigo Bueno de Oliveira, 34 anos, contou que o carro do sogro, também um Uno, foi atingido de frente pelo outro veículo.

"O motorista do outro carro tentou ultrapassar um caminhão e não deu conta. Era uma subida antes de uma curva, faixa contínua, um lugar totalmente proibido", disse. Segundo ele, o condutor do Uno de São Tomás de Aquino já tinha se envolvido em outros dois acidentes com morte e estava respondendo a processo, mas ainda não tinha perdido a carteira.

O comerciante informou que havia indícios de que o jovem havia bebido. Conforme Rodrigo Oliveira, o sentimento da família é de revolta pela impunidade e, também, pelo descaso da concessionária da pista. "Meu sogro pagava pedágio duas vezes ao dia para ir para a fazenda. Já era para terem criado uma terceira faixa lá. Se não fizerem isso, mais gente vai morrer".

Um dos coordenadores do Movimento Chega de Acidentes, o supervisor de Segurança Viária do Cesvi Brasil, José Antônio Oka, observa que a mistura entre álcool e direção ainda é um fator importante nas causas de acidente no Brasil, apesar da instituição da Lei Seca. Além disso, ele destaca o excesso de velocidade. O movimento está reunindo assinaturas em todo o país para criação do Plano de Segurança Viária.

No site (www.chegadeacidentes.com.br), o visitante pode participar, colocando nome e mensagem, e verificar, em tempo real, os prejuízos que a violência nas estradas estão provocando no país desde o dia 18 de setembro. Até a noite da última sexta-feira (16), foram R$ 2,62 bilhões perdidos em hospitais, afastamento das vítimas dos empregos, resgate e medicamentos. A estimativa do site é que, com o valor, daria para construir 74.900 casas populares e 52 hospitais de reabilitação. Os prejuízos são relativos às mortes de 2.953 pessoas e aos ferimentos em 9.357.

Outro especialista em trânsito, o presidente da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego em Minas Gerais (Abramet-MG), Guilherme Durães, lembra a importância de fatores ligados à saúde do motorista com a ocorrência dos desastres. Por exemplo, o uso de medicamentos para hipertensão e diabetes, que pode atrapalhar os reflexos e causar sono. Para ele, deveria existir uma norma para que médicos comunicassem aos órgãos competentes as alterações na saúde do motorista para encurtar o intervalo de renovação das carteiras.

Não importa quanto tempo passa, as marcas deixadas pelas tragédias ficam. A confeiteira Elba Silva Batista, 56 anos, vítima de um acidente com ônibus da Viação Itapemirim em 2001, na BR-381, voltando de Guarapari (ES), conta que ainda sente medo quando viaja em coletivos. "A gente fica muito traumatizada", disse. As cicatrizes de Elba Batista não são só psicológicas. Ela teve que deixar de trabalhar fora por causa de lesões no nervo ciático. Nunca foi indenizada por isso. "Sinto dor na coluna até hoje".

Fonte: http://www.hojeemdia.com.br/cmlink/hoje-em-dia/minas/impunidade-favorece-tragedias-nas-rodovias-1.25867

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