sexta-feira, 22 de outubro de 2010

2010.10.22 - BR 381, Um fantasma no armário - Jornal Bom Dia

João Monlevade - Mesmo sabendo que o assunto rende, mas não produz, lá vamos nós de novo. Os mitos que cercam essa estrada deixaram há muito tempo de pertencer ao universo do real. Viraram piada, diante da absoluta morosidade e sem-vergonhice de que nossos políticos são capazes quando não querem se comprometer.

A 381 virou um fantasma no armário. Aquele que abrir as portas, com vontade firme, vai encontrar um problema do qual não terá como esquivar-se, a não ser resolvendo-o.

Vamos analisar com calma a questão da disputa á Presidência da República: algum dos candidatos declarou em cartório seu compromisso, no sentido de dar um basta ao massacre que a estrada causa quase diariamente?

Algum deles compareceu a cerimônias no entorno da rodovia, dirigindo por suas curvas e despenhadeiros?

Algum deles firmou o propósito de acelerar ao máximo possível o início das obras de humanização da estrada?

É... Estamos bem servidos de candidatos! Bom, eu trocaria doze dúzias deles por uma curva a menos na 381. E ficaríamos num lucro tremendo.

Esta rodovia virou um fantasma não por demérito próprio, mas por crimes alheios. Ela só está envelhecida, carcomida, ultrapassada. Seu único pecado foi não ter resistido ao tempo e ao financiamento fácil para automóveis e caminhões.

Já os crimes alheios são tantos que nem vamos perder tempo enumerando. Vamos logo desfazendo um mito: de que os motoristas são os maiores responsáveis pelo Vietnã de Asfalto, como já apelidei a rodovia tempos atrás.
Até meados de 2000, o fluxo de veículos era muito menor do que agora. Portanto, os motoristas poderiam ser responsabilizados em maior grau. Atualmente, onde não há espaço para o mínimo deslize, onde não há padrão de qualidade para escoamento de água de chuva, onde não há limitação física entre as pistas simples, os motoristas - sejam bons ou sejam ruins - são o menor dos problemas.

Sempre haverá gente insana, estúpida e incapaz de valorizar a vida. A sua própria, ou a alheia. Esta é uma condição humana que eu receio ser imutável. Mal comparando, se alguém aprende a jogar lixo nas calçadas e ruas, jogará lixo quantas vezes lhe der na telha. Mesmo que venha a contrair uma doença grave por causa do lixo e da sujeira.

Cidadania tem mais a ver com Educação que com estradas e impostos, certo?
Certíssimo. Mas impostos pagos significam que os cidadãos esperam o máximo do Poder Público. Porque são tributados no máximo da ganância, em se tratando de Brasil.

Ora, o mínimo que se espera para a 381 é o máximo. Nada menos. Duplicada, com traçado reformulado e com segurança e bons serviços adicionados à sua estrutura, a estrada representará a resposta pronta aos anseios de quem paga por ela, o tempo inteiro, por anos a fio.

O cidadão pode até ser idiota e o governo pode até achar que vale mais a pena investir na educação do idiota, em lugar de gastar algum dinheiro para prevenir que este idiota cometa bobagens por aí.

O problema é que, ao meter a mão no bolso do contribuinte, este mesmo governo não se incomoda em pesquisar quem é idiota ou não. Nessa hora, todos somos muito idiotas para a sanha arrecadadora do Estado.

Então é gastar para proteger a todos, sem exceções. Porque somos todos cidadãos brasileiros plenos.

E porque ninguém mais aceita continuar pagando por um fantasma no armário.

Fonte: Jornal Bom Dia

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