sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O maior dos perigos

Carretas e caminhões de grandes proporções, motoristas imprudentes, rodovias ruins e fiscalização insuficiente transformam os veículos de carga em máquinas de matar

Mateus Parreiras
Publicação: 19/08/2011 04:00

res20110818231317115008oTuítes da Polícia Rodoviária Federal sobre ocorrências com carretas nos últimos três dias

Rodando sobre pistas inadequadas e estreitas, caminhões e carretas cada vez maiores e carregados com mais peso matam uma em cada quatro vítimas de acidentes em Minas Gerais. Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), em 2010, das 1.344 pessoas que morreram nas estradas federais que cortam o estado, 346 (25%) estavam em acidentes com veículos de carga. As ocorrências envolvendo essas máquinas pesadas somaram 14.066 (48%) dos 27.366 registros do ano passado. Especialistas e policiais rodoviários federais apontam que o desgaste das estradas e dos motoristas frente ao escoamento cada vez maior de cargas por meio viário como a razão para tanta violência no trânsito.

Os transtornos para outros usuários das vias também são evidentes. Levantamento feito pelo Estado de Minas sobre as ocorrências divulgadas pela PRF entre o dia 1º de maio e ontem, revela que carretas e caminhões se envolveram em pelo menos 83 acidentes relevantes que deixaram as vias federais congestionadas por 173 horas e 45 minutos. São oito dias de rodovias paradas ou trafegando em meia pista, em três meses e 18 dias.

“Remover caminhões e carretas é muito complicado. Dependendo da carga, podemos levar até mais de um dia. Mês passado, uma carga tóxica vazou na pista da Fernão Dias (BR-381) e foi preciso chamar técnicos de São Paulo para recolher o material e liberar o tráfego”, conta o inspetor Aristides Amaral Júnior, porta-voz da PRF em Minas Gerais.

Nos 83 acidentes com veículos de cargas, houve 20 vazamentos ou derramamentos de cargas diversas nas rodovias federais, entre eles cal, verduras e até ácido. Nessas ocorrências morreram 39 pessoas e outras 73 saíram feridas.
“Quando uma carreta sofre acidente, o resultado é muito pior, muito maior do que quando carros de passeio batem. E isso piora porque os veículos estão cada vez mais rápidos, pesados e longos. O Brasil não investe em hidrovias e ferrovias para escoar sua produção, restando as vias velhas e mal modernizadas para esse papel”, avalia o mestre em engenharia de transportes pelo Instituto Militar de Engenharia do Rio de Janeiro, Paulo Rogério da Silva Monteiro.

CRESCIMENTO

O reflexo desse cálculo pode ser visto pela expansão da frota de caminhões no Brasil e no estado. De acordo com o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), em 2000 a frota brasileira de caminhões e carretas era de 2.180.000 e 251.333, respectivamente. Em maio deste ano, o departamento registrou 4.048.194 veículos de carga no país e 453.043 em Minas, o que representa crescimento de 85,6% e de 80%. “Sem investimentos em outras formas de transporte, restou aos caminhões absorver a demanda. Só que as estradas são praticamente as mesmas de 2000”, avalia Monteiro.

O resultado do aumento dessa frota com as estradas, segundo os especialistas e policiais rodoviários, é visto no aumento de acidentes envolvendo caminhões. Enquanto a frota mineira de veículos de carga cresceu 8%, passando de 405.430 unidades em dezembro de 2009 para 441.284 no mesmo mês do ano passado, os acidentes ampliaram 11,6% no mesmo período, saltando de 12.596 ocorrências para 14.066. A quantidade de feridos aumentou 5%, de 3.342 para 3.506, e os mortos caíram 0,5%, de 348 para 346.
“As estradas tinham de receber mais obras. Ficar maiores. A gente até tenta ajudar, encostando mais para a direita, entrando no acostamento para os motoristas passarem. Até a velocidade a gente reduz quando vê que um carro está com dificuldades para nos ultrapassar”, conta o caminhoneiro capixaba Juarez Alves, 42 anos, 17 deles nas estradas brasileiras. Ele transporta colchões de Linhares (ES) para várias cidades do Mato Grosso numa carreta bitrem com 30 metros de comprimento.
Com o aquecimento da economia, esse tipo de veículo, que tem carroceria com duas articulações, passou a ser usado em vez das carretas que só puxavam uma carroceria. “Um dos motivos é a fiscalização sobre o peso que tem de ser por eixos. Mais eixos podem levar mais peso. O problema é que os cálculos viários mostram que, numa estrada, um caminhão de 20 metros equivale a 30 carros numa ultrapassagem. Um desse tamanho seriam 50”, calcula o engenheiro consultor em infraestrutura viária, Everaldo Cabral.

PROIBIÇÃO

As manobras de ultrapassagem de veículos com essas dimensões são tão arriscadas que durante datas de fluxo intenso, como feriados, a PRF proíbe o tráfego dos veículo das 18h às 6h. “De noite é muito mais difícil ultrapassar veículos tão longos. Quando temos ainda mais veículos, isso piora”, calcula o inspetor Júnior, na PRF.

Mas basta pouco tempo de observação para ver que esses veículos causam impacto mesmo fora das datas de fluxo mais intenso. Na BR-381, por exemplo, a reportagem contou 15 dessas carretas de 30 metros puxando fileiras longas de carros nas curvas do KM 410, em Bom Jesus do Amparo, Região Central, entre as 18h e as 19h da última quarta-feira – uma carreta de 30 metros a cada quatro minutos.

A demanda pelo transporte de cargas é tão grande que faz as grandes carretas encontrarem veículos de carga antigos e em péssimo estado de conservação. Na BR-381, a reportagem flagrou um veículo de 30 anos carregando oito toras de madeira compridas. O caminhão não tinha luz de freios e estava completamente desalinhado e ziguezagueando entre o acostamento e a pista de rodagem, justamente na Rodovia da Morte, a mais perigosa do estado.

res20110818231153995498oCaminhão invade contramão em plena curva na BR-381, sentido BH-Vitória

Fiscalização Intensificada

A Polícia Rodoviária Federal e a Secretaria de Estado de Fazenda estão firmando acordo para que a corporação que cuida das estradas federais mineiras possa fiscalizar caminhões usando as balanças desativadas dos postos da Receita Estadual nas BRs. “Hoje, temos de confiar nas notas fiscais que os caminhoneiros nos apresentam. Muitos deles dividem as cargas em duas notas e por isso conseguem passar por nós transportando mais peso do que o permitido”, admite o porta-voz da PRF em Minas, inspetor Aristides Amaral Júnior. De acordo com especialistas, o excesso de peso é um dos principais causadores de acidentes, por retardar a ação do freio, além de causar estragos no pavimento das estradas.

Caos nas estradas

173 horas e 45 minutos é o  tempo de congestionamento causado por 83 acidentes graves em apenas três meses em Minas

346 das 1.344 pessoas que morreram nas estradas federais em Minas estavam em acidentes com veículos de carga

Fonte: Estado de Minas

Um comentário:

  1. Bom,estou muito triste e preciso de umaa grande ajuda.. estou procurandoo videos qe mostraam acidente do meu ex marido naa fernao dias jaa procurei em todos os lugar e não encontreei sera qe voc saberiia me informar oqe devoo fazer?? foi mostradoo na tv ee tudo (( Rodovia Fernão Dias,km -83,sao paulo)) Foi registrado no dia 14/02/2011 obg .. preciso de respostas.. Por favor me infoorme desde já agradeço Obrigada .. Atenciosamente Geysa

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