Fotos: Emmanuel Pinheiro/EM/D.A PRESS
O trecho esquecido pelos sucessivos governos é repleto de armadilhas, como obras intermináveis, sinalização precária, buracos e afundamento de pista. Os sucessivos acidentes entre Belo Horizonte e João Monlevade, com suas curvas sinuosas e pista não duplicada, renderam ao trecho o título de Rodovia da Morte. Foram 138 vidas perdidas nos 310 quilômetros entre a capital e o Vale do Aço.
Seu José João Siqueira, de 68 anos, tem orgulho em contar que contribuiu para o desenvolvimento do Brasil. Quando pequeno, “lá pelos 12 anos de idade”, por diversas vezes guiou, na companhia do pai, um carro de boi que levava toras na montagem dos galpões usados para guardar as máquinas e dar guarida aos operários que trabalharam na construção da BR-381. “Cada viagem era de mais ou menos oito quilômetros”. Quase seis décadas, milhares de carretas com cargas que movimentaram a economia brasileira já trafegaram pela rodovia que José, hoje um homem com as marcas do tempo na pele, viu surgir entre as montanhas de Minas Gerais. Foram tantos caminhões que é impossível contar a parcela do PIB nacional que viajou pela estrada. Também é incontável a quantidade de pessoas que dependem dela para ir ao trabalho, à escola, à casa de parentes etc.
Toda a importância da 381, contudo, não comoveu a atual e as últimas administrações do governo federal, que deixaram o importante corredor ter duas faces completamente distintas. Os trechos são tão opostos que o motorista que visitar Minas e percorrer toda a extensão da BR pensará que viajou em duas estradas diferentes. O primeiro, que vai de Belo Horizonte a São Paulo, é o exemplo de uma via com excelente infraestrutura: pista duplicada, iluminação nas áreas urbanas, sinalização adequada e mais de uma faixa de rolamento na mesma direção.
O segundo, da capital mineira a Vitória, é o exemplo da rodovia “esquecida” pelo poder público, pois coleciona várias armadilhas. A falta de proteção física – canteiro central ou muretas – entre as direções contrárias permite batidas frontais, a pista simples deixa o trânsito lento em boa parte do percurso e a ausência de valas para escoar a água da chuva aumenta a chance de aquaplanagem no asfalto. A diferença entre as duas faces da 381 deixam seu José chateado, pois, para ele e demais usuários da estrada, toda a extensão da BR deveria ser duplicada.
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