14/11/2009 08h29
Frustração dos integrantes do Movimento SOS Estradas Federais se estendeu à ausência de políticos da região. Por pouco a paralisação era suspensa, quando tinha mais policiais que manifestantes
ANDRÉ NOGUEIRA E JOSÉ SANA
A mais fraca de todas as manifestações pró-duplicação da BR-381. Assim definiu a paralisação do tráfego na rodovia, nesta sexta-feira 13, um dos principais líderes do movimento, Jadson Rodrigues, conhecido como Pardal, vereador do PDT de Caeté.
O bloqueio, ocorrido no Trevo de Nova União, foi iniciado às 16h35 (atraso de 35 minutos) e terminou exatamente às 17h22. Durante os 47 minutos de interrupção do tráfego foram exibidas faixas e entregues adesivos. A missa, prevista para ocorrer no local, teve sua celebração transferida para a igreja de Nova Aparecida, a que compareceram quase somente moradores locais e realizada após o evento.
Durante o bloqueio, o padre José Emídio de Souza, da Paróquia de São Sebastião, de Nova União, rezou uma oração por intenção das pessoas que perderam a vida em acidentes ocorridos no trecho de Governador Valadares a Belo Horizonte. Depois falou o prefeito nova-uniense, Moacir Barbosa de Figueiredo (PP), que apelou pela união das forças políticas em busca de uma solução mais rápida para a realização da obra. Por último, pronunciou-se Pardal, que lamentou a falta de apoio dos cidadãos da região ao ato, mas não deixou de lembrar que a luta continua.
O presidente da Câmara Municipal de Itabira, Neidson Dias de Freitas (PP) e o vice-presidente, Paulo Ferreira Chaves (PSDB) chegaram ao local antes do horário previsto para o início do ato. Neidson chegou a brincar com a reportagem sobre o cancelamento ameaçado. “Pode ser que não tenhamos a paralisação hoje por falta de quorum”, ironizou. Ele e o seu companheiro da Mesa Diretora do Legislativo carregaram uma faixa com a frase “Rodovia da Morte — o Governo Federal não toma providências!”
Além dessas autoridades, compareceram o deputado estadual Wander Borges (PSB), ex-prefeito de Sabará, e o vereador de Nova União, Marcelo Marcelino dos Santos (PMDB). Um contingente de policiais, de Belo Horizonte, da Tropa de Choque da PM, reforçou o grupo da Polícia Militar que atua no município, além dos componentes do posto policial do bairro Nova Aparecida.
Segundo os próprios organizadores da paralisação, ao ato compareceram apenas 70 pessoas, das quais seriam 40 manifestantes, o resto repórteres, fotógrafos, policiais (PRF, Batalhão de Choque e PM de Nova União). No entanto, no final do bloqueio, parecia haver maior público, considerando que motoristas e passageiros de veículos parados na estrada, que se estenderam por aproximadamente dez quilômetros nos dois sentidos, de acordo com a PRF, se juntaram para pedir que fossem liberados. Naquele momento, o tempo estabelecido para a paralisação — 30 minutos — já estava esgotado.
FRACASSO E DECEPÇÃO
O vereador caetense e um dos líderes do movimento, Jadson Rodrigues, não escondeu a sua decepção. “Não foi por falta de convites que os nossos políticos de cidades próximas não compareceram; a maioria confirmou a presença; apenas uma autoridade justificou a sua ausência, a vereadora Dorinha Machado, presidente da Câmara Municipal de João Monlevade, que está casando um filho hoje”, disse a DeFato o conhecido Pardal.
Mesmo com pouquíssimas pessoas presentes, Pardal queria que o bloqueio durasse 14 horas. Mas os ocupantes das três viaturas da Polícia Rodoviária Federal descartaram, antecipadamente, tal hipótese. Nem mesmo uma hora, nova proposta de Pardal, foi tempo aprovado pela PRF, que determinou: 30 minutos apenas.
Contudo, o tempo de bloqueio acabou chegando a 47 minutos, do instante em que foram parados o primeiros veículos à sua liberação. E quando o inspetor Waltair Vasconcelos, que comandava a operação, acabava de dar entrevista a DeFato, quando justificou a limitação do tempo — “Trata-se de uma paralisação simbólica e não algo para tirar a paciência do motorista”, sintetizou — alguns caminhoneiros se organizaram e começaram a protestar. Aí, o tráfego já estava sendo liberado.
FAMÍLIAS SOFRIDAS
Pais de duas vítimas fatais do acidente, ocorrido em 11 de março deste ano, nas proximidades da Serra da Piedade, com uma Van de Caeté, eram duas figuras presentes na manifestação desta sexta-feira 13. Osvaldo de Paiva Santos, cujo filho, Osvaldo de Paiva Santos Filho, de 20 anos, perdera a vida, e Eliane Silva Syrio, mãe de Alberty Silva Syrio, de 25 anos, também falecido no mesmo acidente, se juntavam a dois filhos — Alecior (que conseguiu sobreviver na tragédia) e Adair — e a amigos para reforçar o apelo ao governo federal pela duplicação mais rápida da BR-381.
Osvaldo contou detalhes da vida do filho, que estudava em Belo Horizonte. “Nenhum de nós consegue esquecer aquele dia trágico; estamos aqui para dar força a estas pobres pessoas que enfrentam esse trânsito maluco; precisamos da obra com urgência; isso não pode demorar mais”, declarou à reportagem.
Eliane, recordando o filho Alberty, com a voz embargada, afirmou: “Tenho a coragem de superar a dor ao reviver aquela data triste; é um sacrifício que faço em nome de tantas pessoas ameaçadas e, também, de filhos que continuam enfrentando esse tráfego diariamente”.
ATÉ QUANDO?
Enquanto as mobilizações se realizam, o deputado federal José Santana de Vasconcellos informa que foram publicados no Diário Oficial do dia 06/11/2009 os oito contratos para o projeto de engenharia da obra. A fase, para os entendidos, significa que a licitação da obra propriamente dita pode demorar mais um ano e daí à duplicação concluída o tempo de execução das etapas poderá superar a previsão de quatro anos.
Para os manifestantes mais frequentes da BR-381, que lutam há cerca de dois anos pela duplicação da rodovia de Governador Valadares a Belo Horizonte, o caos se instalará definitivamente entre Belo Horizonte e Governador Valadares.
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