Audiência pública rejeita pedágio e defende construção de um novo traçado até Belo Oriente
IPATINGA - Dezenas de prefeitos, vereadores e lideranças dos municípios cortados pelo chamado trecho Norte da BR-381, que liga Governador Valadares a Belo Horizonte, estiveram ontem à tarde na Assembleia Legislativa, em Belo Horizonte, participando de uma audiência pública da Comissão de Transporte, Comunicação e Obras Públicas que discutiu o polêmico projeto de duplicação da rodovia.A busca de informações concretas sobre o projeto e a denúncia das péssimas condições de tráfego entre o Leste mineiro e a capital deram o tom das discussões da audiência, realizada a pedido da deputada Rosângela Reis (PV), representante do Vale do Aço e presidente da Frente Parlamentar pela Duplicação da BR-381. Parlamentares e familiares dos mortos em acidentes na rodovia aproveitaram o espaço para fazer novas reclamações e denúncias.
Propostas
Várias propostas foram discutidas durante a reunião em BH. A que agradou à maioria foi a de duplicação da rodovia com novo traçado até Belo Oriente, com o contorno de todo o Vale do Aço. É nessa proposta que vem trabalhando o Dnit, inclusive com estudos preliminares já concluídos.
O projeto executivo encomendado pelo Dnit, que deveria ter sido feito em 2008 para início das obras neste ano, não foi licitado. Haveria, inclusive, R$ 349 milhões no Orçamento de 2009 para executar as obras dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), segundo o deputado federal Alexandre Silveira (PPS-MG), que foi diretor-geral do Dnit até dezembro de 2005. O inconveniente desse projeto seria o seu preço, estimado em R$ 2,2 bilhões.
Pedágio
Outras duas propostas de duplicação da BR-381 Norte teriam surgido dentro da Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT), que não mandou representante à audiência de ontem na Assembleia Legislativa. Uma delas seria a duplicação sem mudar o traçado, o que reduziria os custos. A outra é de conceder previamente a rodovia à iniciativa privada, que implantaria pedágio e acumularia recursos em “gatilhos” para realizar trechos da duplicação.
Essa última proposta foi criticada por vários deputados, como o próprio Alexandre Silveira e Ronaldo Magalhães (PSDB), representante de Itabira, que discorda dessa proposta de “pagar para morrer”. Para Magalhães, a melhor solução seria delegar o trecho ao Departamento de Estradas de Rodagem (DER-MG), “já que o governo de Minas teria mais competência e interesse em resolver rapidamente o problema e poupar vidas”. Segundo dados da Polícia Rodoviária Federal, em 2008 ocorreram 8.254 acidentes com 277 mortes na BR-381, quatro vezes mais acidentes do que na BR-116 (Rio-Bahia).
Uma proposta nova foi apresentada pelo deputado Wander Borges (PSB), que é a colocação emergencial de redutores de velocidade físicos ou eletrônicos nos pontos de maior incidência de acidentes, além de melhorar a sinalização e fazer acostamentos.
Mortes
O deputado Mauri Torres (PSDB), que representa João Monlevade, contou que trafega duas ou três vezes por semana no trecho até Belo Horizonte e que já sofreu acidentes graves, assim como sua família. Ele criticou a atitude da PRF de fechar uma pista para estrangular o tráfego, “induzindo motoristas a ultrapassarem pela faixa dupla e serem multados”. A sugestão de Torres é buscar entendimentos com o Dnit e com a iniciativa privada para que a duplicação se torne uma realidade. Ele não acredita, porém, que estará vivo para aproveitá-la.
Sebastião Donizete de Souza, superintendente regional do Dnit, que também participou da audiência, estima que a obra levaria pelo menos quatro anos para ser executada. O engenheiro Maurício de Lanna, da Consol, que realizou os estudos preliminares, demonstrou que o traçado atual da BR-381 é inviável, pois os trechos de maior movimento são os de relevo mais acidentado. Seus dados dão conta de que, em 2006, ocorria uma morte a cada três dias. Hoje, são três mortes a cada quatro dias.
Obra foi garantida pela ministra da Casa Civil
O deputado federal Alexandre Silveira (PPS), um dos participantes da audiência de ontem na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, relatou todos os esforços que realizou durante sua gestão no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) para a conservação da rodovia.
Silveira lembrou que, quando assumiu o Dnit, não havia sequer contrato de conservação da BR-381. “Um bueiro mal dimensionado em Bom Jesus do Amparo (região Central), que seria reparado por R$ 5 mil, provocou uma paralisação de vários dias na rodovia e um conserto emergencial que custou R$ 2,1 milhões.”
Silveira relatou também uma reunião que teve com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, com a presença de dirigentes da Cenibra e da Usiminas, na qual foram expostos os planos de expansão dessas empresas, que dependeriam da duplicação da rodovia. A ministra teria se comprometido publicamente a realizar a obra com recursos do PAC.
“O novo diretor-geral do Dnit, Bernardo Figueiredo, assumiu dizendo que fará a concessão da rodovia. Para nós não interessa a forma, desde que seja feita a obra adequada, e que o interesse público prevaleça sobre os interesses privados”, afirmou Silveira.
Prefeitos ameaçam bloquear a rodovia
A deputada estadual Rosângela Reis, presidente da Frente Parlamentar pela Duplicação da BR-381, viaja nesta quarta-feira para Brasília, integrando uma comitiva de prefeitos e vereadores, para duas audiências no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Alguns prefeitos da região estão dispostos a bloquear a rodovia até o governo dar uma resposta satisfatória à antiga reivindicação de duplicação da BR-381 entre Governador Valadares e BH.
Integram a comitiva os prefeitos de João Monlevade e São Gonçalo do Rio Abaixo, respectivamente Gustavo Prandini e Raimundo Nonato Barcelos, além da presidente da Câmara Municipal de João Monlevade, Dorinha Machado, e do presidente da Regional Vale do Aço da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Minas Gerais (FCDL-MG), Caril Wellis de Paula.
De acordo com a deputada, além dos deputados estaduais e federais que lutam pela duplicação da BR-381 Norte, as lideranças políticas e comunitárias das cidades localizados ao longo da rodovia estão dispostas a manter uma forte mobilização e vigilância em busca de soluções para o grave problema social em que se transformou a rodovia.
Relatório
Rosângela Reis informou que um relatório da reunião de ontem será apresentado ao Ministério Público Federal, cobrando providências para aumentar as condições de segurança na rodovia. “Chegamos à conclusão de que algumas providências emergenciais podem ser tomadas, e vamos buscá-las, mas não podemos abrir mão das obras que garantirão não só a preservação de vidas humanas, mas também o desenvolvimento econômico que já se anuncia para o Leste de Minas. Este é um movimento suprapartidário”, observou a deputada.
A ausência de representantes da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que conduz o processo de concessão do trecho da estrada entre Belo Horizonte e Governador Valadares, e do Ministério dos Transportes, conforme a deputada, impediu que os presentes pudessem comparar as propostas de duplicação que vêm sendo construídas a pedido do governo federal e conhecer o destino que será dado à rodovia.
Fonte: http://www.diariodoaco.com.br/noticia.php?cdnoticia=19997
Nenhum comentário:
Postar um comentário