quinta-feira, 23 de setembro de 2010

2010.09.23 - Igreja assume tragédia – Estado de Minas

Diocese de Itabira anuncia apoio psicológico e financeiro às famílias cujos parentes morreram terça, no acidente da BR-381, causado por padre com problemas de alcoolismo

Luciane Evans

Famílias despedaçadas e indignadas. Um clero sem consolo, mas decidido a assumir a responsabilidade de uma tragédia. A cena do padre Almir Adomiran Duarte na BR-381, morto em seu automóvel, na companhia de duas garrafas de vodca, deixando para trás um rastro de mortes, chocou o país. Ainda abalada, a Diocese de Itabira, para a qual o padre atuava, anunciou que irá apoiar as famílias das vítimas do acidente, em ajuda solidária e também econômica. “Não é culpa da instituição, mas estamos vendo uma consequência do pecado”, afirmou o vigário geral, Francisco Guerra.

Com problemas de alcoolismo, Almir, de 41 anos, voltava na tarde de terça-feira de Belo Horizonte, depois de se tratar da dependência. Seguia para Itabira. Em Caeté, na Grande BH, parou em um bar e bebeu vodca, como revelou o Estado de Minas. Em Roças Novas, dirigindo o Gol GLL 7510, ultrapassou dois veículos pelo acostamento. Perdeu a direção, invadiu a contramão e bateu numa carreta, que tombou, esmagando dois carros. Foram quatro mortes, incluindo a do padre, e três pessoas gravemente feridas.

A notícia estremeceu Itabira, na Região Central. Almir, havia alguns meses, vinha dirigindo embriagado e em alta velocidade, sendo multado pelo menos quatro vezes desde abril. Ontem, às 17h, ele foi enterrado na cidade, onde era muito querido. O vigário geral concelebrou missa em homenagem ao religioso e às outras vítimas. “Estamos abatidos”, declarou. Agora em São Gonçalo do Rio Abaixo, ele atuou 15 anos na região. “Não foi afastado porque dizia que o ofício o ajudava na recuperação”, comentou o vigário.

Segundo ele, a Diocese sabia do alcoolismo e, havia um ano, apoiava o tratamento. “Ele tinha histórico de dependência na família e crise de depressão”, conta. Almir era submetido ao tratamento Abordagem Direta do Inconsciente, na capital. “O segundo passo seria se internar numa casa de recuperação”, revela.

Segundo o vigário, a instituição irá procurar as famílias das vítimas e oferecer ajuda psicológica e financeira. Ele nega que Almir tenha atuado alcoolizado nos ritos da igreja. “Era um homem ético e, nas crises, preferia ficar em casa. Colocávamos outro religioso para substituí-lo. Infelizmente, vivemos numa sociedade complexa, e vícios podem pegar qualquer um, inclusive do clero.”

FAMILIARES

Duas outras cidades choraram seus mortos. Em Espera Feliz, na Região da Mata, foi decretado luto por três dias. No acidente, duas pessoas do município perderam a vida. Ronaldo Antônio Lopes, de 57 anos, era motorista da prefeitura. Estava de folga e se ofereceu para levar dois cabos da Polícia Militar, Cláudio José da Silva, e José Rodrigues de Souza, de 43 anos, o único sobrevivente, com fraturas na bacia. Os três estavam no Santana placa KMS 3604, de Muriaé, atingido pela carreta.

Ontem, os corpos foram velados no Ginásio Poliesportivo por cerca de 1,2 mil pessoas. “Foi um choque grande, pois foi causado por quem conhece as leis de Deus”, comenta o prefeito Luis de Barbosa (PMDB). Os familiares de Cláudio não quiseram dar entrevista. O militar deixou três filhos.

Eliane Alves Lopes, irmã de Ronaldo, contou que ele não tinha vícios nem bebia. “Numa atitude estúpida, perdeu a vida por causa de um homem que deveria dar exemplo. Chegamos a desacreditar na igreja, com mais esse escândalo. Como um padre alcoólatra tem condições de cuidar do rebanho de Deus?.”

Em João Monlevade, na Região Central, o clima também foi de tristeza e revolta. Geraldo Bastos, de 67 anos, comerciante, morreu ao ter sua D20 atingida pela carreta. O passageiro, o vizinho José de Calazans Batista, quebrou o fêmur, mas passa bem. A viúva, Marisa Domingues Bastos, diz que a família é católica e está decepcionada. “Vamos atrás dos nossos direitos”, garantiu, emocionada.

Ontem, a BR-381 foi palco de outra tragédia. Por volta de 12h, um homem de 54 anos morreu à altura do km 376, em São Gonçalo do Rio Abaixo. Ele perdeu o controle do veículo e capotou o Fiat Strada GMF3661, de Governador Valadares.

Fonte: Estado de Minas

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...