sábado, 25 de setembro de 2010

2010.09.25 - O padre, a pinga e a pirraça com a 381 – Jornal Bom Dia

João Monlevade

Não confundam, por favor, o título chamativo com o conteúdo do texto. O assunto é sério e precisa ser analisado com calma e temperança, mesmo após ter apresentado resultados nefastos para muitas famílias e sociedades na região.

Padre Almir deixará saudades, como percebemos pela leitura das matérias na mídia local. Deixará fiéis desolados com sua ausência. Deixará a sensação de impotência a muitas pessoas, que devem ter convivido com sua dimensão religiosa e com sua doença humana: o alcoolismo.

Almir Adomiram Duarte deixará vítimas. Que me perdoem todos os amigos que conseguiu reunir em vida, mas sua dimensão humana pecou, e muito, como é de acontecer com todos nós. Tenho certeza de que Deus o acolheu e o perdoou, assim como recebeu e perdoou todos os mortos no desastre de que foram vítimas.

Mas as cicatrizes ficaram e não serão apagadas. A bebida e a direção, como sabemos nós todos, são água e óleo. Não se misturam sem traumas. E alguns são eternos enquanto houver quem se lembre deles.

E a rodovia, cuja persistência em matar quase todos os dias permanece como uma praga em cima de nossas cabeças, vai continuar sua matança de forma desinibida. Debochada. Infame. Até que algum de nossos políticos amantes de helicóptero perca um parente querido nela. Se os parentes queridos não forem todos, é claro, amantes de helicópteros também.

Se este estrume da 381 fosse uma aerovia, ou seja, uma rota para aviões e helicópteros já teria sido ampliada, corrigida e duplicada há dez anos atrás. Porque nós estamos construindo um Brasil de primeira classe e um de classe econômica. Nem precisa dizer quem é que usufrui do Brasil de primeira classe.

É pirraça contra a população? É raiva, porque a gente quer receber algo útil em troca dos impostos que pagamos e dos votos a que nos obrigamos? É ódio? Pelo amor de Deus algum político me diga o que é, porque eu não entendo mais nada em relação à BR 381.

Só sei que não tenho visitado minhas irmãs com a freqüência que eu queria, que não tenho visto alguns amigos com a freqüência que eu queria, que não estou exercendo o meu direito de ir e vir como as leis do meu país me fizeram crer que eu conseguiria.

Sei que o meu amigo Calazans está com o fêmur fraturado em Belo Horizonte, que mais uma família monlevadense está destroçada de dor, que outras famílias também estão. Vou dizer o que? "Meus sentimentos?"

Quem é que vigia os governantes? Eles nos vigiam o tempo todo. Querem controlar muitas coisas em nossas vidas. Pois que aprendam a controlar o fato de que não tem vergonha na cara de pau, isso é tudo o que precisamos.

Não controlaram o passado perigoso do padre Almir em relação com sua doença crônica e perigosa para os demais cidadãos. Há meados de um mês, ele se envolveu em um "acidente" de trânsito relacionado ao consumo de álcool. Precisava de ajuda, e o Estado se lixou para isto. Agora quem precisa de ajuda?

Não me entendam mal. Já houve um julgamento severo para o que aconteceu, e o meu julgamento ou o julgamento de qualquer pessoa não fará mais diferença em relação à essas vítimas da "Estrada para a Perdição".

Mas o meu julgamento do Estado - entenda-se qualquer instância de Governo que venha dar a cara para bater e assuma suas responsabilidades - em relação à BR 381 é um só.

Culpado.

Por Célio Augusto de Lima

Fonte: Jornal Bom Dia

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