sábado, 23 de julho de 2011

Desvio na BR-381 põe faturamento de empresários em risco

Empresários de Bela Vista, João Monlevade e São Gonçalo do Rio Abaixo temem perdas com a variante na estrada, que vai retirar dessas cidades fluxo de 10 mil carros por dia

Paulo Henrique Lobato - Estado de Minas
Publicação: 22/07/2011 06:00 Atualização: 22/07/2011 07:55

Bela Vista de Minas, João Monlevade e São Gonçalo do Rio Abaixo – Uma variante de 45 quilômetros que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) planeja construir na trágica BR-381, entre a ponte do Rio Una, em São Gonçalo do Rio Abaixo, e Nova Era, causa polêmica na Região Central do estado. De um lado, a espécie de transposição de parte da estrada conhecida como Rodovia da Morte reduzirá a carnificina na malha, pois o “desvio” será duplicado e priorizará longas retas. Do outro, comerciantes de três cidades cortadas pelo atual trecho – São Gonçalo do Rio Abaixo, João Monlevade e Bela Vista de Minas – temem prejuízos, uma vez que o novo caminho não passará mais dentro dos municípios. Empresários de Rio Piracicaba, a 10 quilômetros da rodovia, também temem ser prejudicados indiretamente.

20110722000628156147iNovo trecho rodoviário com 45 quilômetros vai passar longe de Bela Vista de Minas, hoje cortada pela rodovia. Promessa de redução nos acidentes

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) calcula que 60% dos 17 mil veículos que passam diariamente no atual trecho passarão a usar o novo caminho, acesso ao Vale do Aço, ao Vale do Rio Doce e ao Nordeste brasileiro. O percentual representa 10,2 mil carros, motos, caminhões e ônibus. O projeto executivo para definir o traçado correto da variante está em fase de licitação e só deve ser concluído em dois anos. Somente depois dessa etapa é que o Dnit saberá o custo, o início e o fim da obra. É bom lembrar que essa licitação, como todos os certames da autarquia, está suspensa, até agosto, devido a acusações de corrupção no Ministério dos Transportes.

Mas empresários das três cidades que ganham a vida às margens da 381 já preveem perdas. Houve até quem suspendeu investimentos para ampliar o negócio à espera do traçado do novo caminho. “Deixei de abrir um posto de combustíveis, (orçado) em R$ 1,2 milhão, dentro de São Gonçalo, e outro, em João Monlevade, em torno de R$ 8 milhões. Saindo a variante, pretendo inaugurar um posto na nova rodovia”, disse Sanjay Purushotam, dono do posto Recreio, em São Gonçalo. Sócio de um restaurante na mesma cidade, Alexandre Moraleida Gomes é outro com receio de que o “desvio” leve boa parte da clientela: “Deixamos de investir em reforma”.

O lamento dos comerciantes não é apenas com os 10 mil veículos que vão seguir pela variante. Muitos desses motoristas e passageiros pagam produtos e serviços à vista, assegurando, como ressaltou Édson Martins de Paula, dono da Auto Mecânica Betel, em João Monlevade, o capital de giro de vários estabelecimentos. “Corro o risco de perder 30% do movimento”. Percentual maior pode ocorrer na Auto Acessórios Paulomarc, também naquele município, e especializada em tacógrafos. “O público de fora representa cerca de 90%”, afirmou a sócia Mara Freitas.

A dona do restaurante Cheiro Verde, Cíntia Cristina Moreira Trindade, também teme ver o faturamento despencar. Ela serve, no almoço e jantar, em torno de 120 refeições diárias. “Pode cair mais de 50%”. Colega de ofício, Keller de Souza Ferreira, proprietário do restaurante Gira-Sol, em Bela Vista de Minas, não acredita na construção da variante, mas admite que o novo caminho, “se construído, será péssimo” para seus negócios. “De sexta-feira a domingo, atendo 25 ônibus. Emprego 25 funcionários. Se a nova BR passar longe daqui, terei de fechar as portas”.

A intenção do Dnit é também duplicar o atual trecho, que passará a pertencer à BR-262, caminho para o Espírito Santo. Ainda assim, é mais vantajoso o uso da futura variante para quem deseja seguir aos vales do Aço e Rio Doce e para o Nordeste brasileiro. A duplicação do atual trecho é reivindicação antiga da população. Os moradores de São Gonçalo do Rio Abaixo, João Monlevade, Bela Vista de Minas e Rio Piracicaba somam 107 mil pessoas. O presidente da Associação dos Municípios da Microrregião do Médio Piracicaba (Amepi) e prefeito de Dom Silvério, José Maria Repolês, cobra urgência na obra. “Esperamos (a faxina completa no Dnit) para irmos a Brasília sensibilizarmos as autoridades”.
ROTA DE TRAGÉDIAS Os acidentes na 381 renderam à estrada o rótulo de Rodovia da Morte. Apenas nos 100 quilômetros de Belo Horizonte a João Monlevade, segundo estatística da PRF, 330 pessoas perderam a vida em três anos: 138 em 2008, 81 em 2009 e, em 2010, 111. Mas a carnificina na estrada começou em 1963, quando o fazendeiro Teófilo Severino foi atropelado por um caminhão, numa curva em Ravena, distrito de Sabará. Ele foi a primeira vítima da 381. “O caminhão que o matou havia sido roubado”, conta dona Julieta Severino, que teve 23 filhos com o fazendeiro.

Personagem da notícia
Morte na curva em 1963

JULIETA MARGARIDA SEVERINO
VIÚVA DA PRIMEIRA VÍTIMA DA BR-381

Dona Julieta Margarida Severino é a mulher mais velha de Ravena, distrito de Sabará. Mãe de 23 filhos, dos quais apenas 11 vivos, ela tem 97 anos e vive numa casa simples, mas com uma varanda que lhe permite uma bela vista das montanhas daquelas bandas. De lá, a mulher vaidosa, que esta semana pintou as unhas de vermelho, também avista a perigosa curva da BR-381 em que seu marido, Teófilo Severino, morreu atropelado por um caminhão que havia sido roubado horas antes. Ele foi a primeira pessoa a perder a vida na trágica rodovia. Ela se casou, em 1930, aos 16 anos e ficou viúva aos 49. Daquele trágico dia, ainda se recorda com detalhes do acidente: “Morávamos aqui perto e atravessamos a BR para buscar milho. Odara, minha filha, voltou e Teófilo foi buscá-la. Não viu o caminhão, que era roubado. Otacílio, meu caçula, tinha 3 anos”, conta dona Julieta. Na sala de casa, onde passa boa parte do tempo, um quadro com a foto de seu marido a ajuda a matar a saudade do fazendeiro.

Enquanto isso
Tradição preservada

Uma das lanchonetes mais tradicionais de Minas Gerais, a Belvedere, mais conhecida como Pão com Linguiça, e que funcionou, por décadas, numa das cabeceiras do viaduto Vila Rica, mais conhecido como viaduto das Almas, no km 592 da BR-040, perto de Congonhas, fechou as portas, em outubro de 2010, no exato momento em que a antiga ponte foi desativada e substituída pelo viaduto Márcio Rocha Martins, erguido a três quilômetros da velha passagem. A substituição da ponte perigosa pela moderna exigiu a construção de uma variante de 3 quilômetros. O novo caminho isolou a Belvedere, mas o dono, Inácio de Santana, agiu rápido e adquiriu um terreno na entrada da variante. A nova Belvedere está em construção e deve ser inaugurada, como prevê o dono, “no fim de setembro ou início de outubro”. O local ocupa 13 mil metros quadrados, dos quais 680 metros abrigarão a lanchonete. O restante será destinada ao estacionamento de veículos da fiel clientela e à construção de um posto de combustível. A meta do proprietário é negociar cerca de 3 mil sanduíches por dia, o dobro de quando fechou. A lanchonete entrou para a história em 1957, quando o então presidente da República, Juscelino Kubitschek (1902-1976), inaugurou a BR-040, que naquela época se chamava BR-3, numa solenidade ocorrida no estacionamento da Belvedere.

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Fonte: Portal Uai

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