domingo, 31 de julho de 2011

Violência nas rodovias durante as férias escolares marca várias famílias

Desde 2009, soma das vítimas em BRs apenas durante esse período chega a 254

Flávia Ayer -
Marcelo da Fonseca
Publicação: 31/07/2011 07:22 Atualização: 31/07/2011 07:48

res20110730193719617699aProtesto contra série de acidentes na 381 em 2009: manifesto em vão

O tempo ainda não conseguiu transformar a dor em saudade. Faz apenas 22 dias que Gaudêncio Faria de Almeida e Lenice Aparecida Nunes de Almeida, ambos com 55 anos, foram obrigados a se despedir do filho Gaudêncio Nunes Almeida, de 21, o Gaudencinho. O universitário e dois amigos estão na lista das 40 pessoas que morreram em rodovias federais que cortam Minas Gerais apenas este mês. Eles perderam a vida na BR-262, entre os municípios de Campo Florido e Uberaba, no Triângulo Mineiro, quando voltavam de uma festa. O acidente ocorreu três dias depois de o Ministério dos Transportes, com a explosão da crise envolvendo suspeita de superfaturamento de obras, suspender dois editais que previam a melhoria da via.

Os processos de licitação, interrompidos e sem data para serem reabertos, preveem a elaboração de estudos técnicos, além de obras de restauração e duplicação em 9,9 quilômetros de pista, entre a entrada do município de Bom Despacho, no Centro-Oeste, e a MG-423, no Triângulo Mineiro. Embora não trate especificamente do trecho de pista simples pelo qual passou Gaudecinho, a notícia da paralisação dos editais aumenta a dor da família. “Não se pode conceber e permitir que mais vidas sejam ceifadas pelo descaso das autoridades. Sabemos que, muitas vezes, a culpa é realmente do péssimo estado de conservação de nossas estradas”, afirma Gaudêncio, emocionado.

O filho era um dos passageiros do veículo que bateu numa árvore. “Há notícia de que eles teriam bebido, uma tragédia indescritível, imensurável, dessas que, infelizmente, ocorrem a toda hora. A pista onde ocorreu o acidente está em boas condições de conservação, mas não tem acostamento, não tem sinalização”, conta o pai, acreditando que estradas melhores podem equilibrar a imprudência de motoristas. Natural de Campina Verde, no Triângulo, Gaudencinho cursava o 5º período do curso de engenharia ambiental e havia acabado de ser promovido no emprego.

DESCASO HISTÓRICO

As histórias de perdas em acidentes durante julho são recorrentes nas estradas mineiras, o que reforça a percepção de que o descaso não reflete apenas a atual crise no Ministério dos Transportes. No ano passado, foram 107 mortes durante o mês das férias escolares, número similar à quantidade de vítimas de 2009. Naquele ano, a repetição dos desastres levou moradores de vários municípios cortados pela BR-381 e parentes de vítimas a organizar um protesto, fechando o tráfego nos dois sentidos e espalhando dezenas de cruzes às margens da rodovia. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) informou que ainda em julho de 2009 seria assinado o contrato para elaboração do projeto de duplicação dos 310 quilômetros, entre BH e Governador Valadares. Agora, o departamento promete começar as obras até o fim do ano em trecho de 70 quilômetros da capital a São Gonçalo do Rio Abaixo.

RECOMPOSIÇÃO AGUARDADA

Esvaziado desde o início da crise, o Dnit teve exonerados seis dirigentes, responsáveis pelo setor de gestão dos programas de infraestrutura nas estradas federais. Na sexta-feira, a presidente Dilma Rousseff assinou decreto que determina ao conselho administrativo do órgão a escolha dos nomes que devem substituir provisoriamente os diretores afastados após denúncias. O objetivo do governo federal é assegurar condições de trabalho no departamento e evitar que a paralisação das obras geridas pela pasta se arraste por mais tempo.

O superintendente regional do Dnit em Minas, Sebastião Donizete, afirmou nesta semana que o órgão sabe da importância das obras para o estado e que os processos licitatórios previstos para as rodovias mineiras estão em andamento em Brasília na sede do departamento, aguardando autorização do ministro dos Transportes para ser retomadas. Ontem, a assessoria da superintendência mineira informou que os editais devem ser retomados assim que o prazo de 30 dias de suspensão se encerrar, em 5 de agosto, e que novos adiamentos não estão previstos.

Precariedade no asfalto

Quatro pontos, em síntese, representam os principais problemas das rodovias que cortam o estado. A fiscalização é falha: há precariedade de pontos de pesagem de caminhões; falta controle de consumo de bebidas e psicotrópicos; não há radares e, quando há, o motorista é informado sobre o ponto onde o aparelho está, o que é um equívoco. Além disso, o nível de manutenção da pavimentação e sinalização no Brasil é deficiente e, em Minas, que tem a maior parte da malha viária, essa combinação é cruel. O terceiro ponto, que pode estar no topo da lista, é o fato de as estradas, tanto em número de faixas quanto em raios de curvas, não ser adequadas ao tipo de tráfego. O exemplo clássico é a BR-381, que não atende mais a demanda de veículos que recebe. Por fim, não há investimento do governo em educação de trânsito. Nem sequer temos, por exemplo, cursos para dirigir em estradas, sendo que a principal causa dos acidentes é o fato de que motoristas não sabem ultrapassar.

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Fonte: Portal Uai

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