quinta-feira, 7 de julho de 2011

Mais outra crise

Publicado no Jornal OTEMPO em 05/07/2011

As denúncias eram conhecidas do governo. Mas, no último sábado, depois que a revista "Veja" detalhou o esquema, a presidente não teve outro jeito senão mandar o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, demitir quatro integrantes do seu ministério.

Os quatro são acusados de operar um esquema de propinas cobradas de empreiteiras e consultorias. Mediante o pagamento desse "pedágio", as empresas ganhavam as licitações, podiam superfaturar os preços e ganhavam aditivos, aumentando ainda mais os preços das obras.

A presidente reclamou, mais de uma vez, do alto custo das obras. Disse que estavam inflando os preços. Em um ano, o orçamento das ferrovias aumentou 38%. No momento, o ministério estava negociando com o governo um aditivo de R$ 10 bilhões.

O ministério é um dos braços mais importantes do governo para tocar as obras de infraestrutura do PAC. Sob sua administração está o criticado Dnit, cujo diretor geral também caiu. Desde que foi criado, sucedendo ao DNER, o órgão protagonizou vários escândalos.

O ministro não foi demitido porque isso pode abalar a relação do governo com o PR. Segundo as denúncias, o dinheiro ia para o partido. Presidente do PR, o ministro não saberia de nada. Por isso, será mantido e inclusive conduzirá as investigações internas.

A oposição promete atazanar o governo, inclusive ressuscitando uma CPI no Senado. Mas o episódio, o último de uma série, serve para ilustrar como funciona o chamado presidencialismo de coalizão, em que o Executivo, muitas vezes, é refém de seus próprios aliados.

Parece que aqueles aliados não trabalhavam a favor do governo e do país, boicotando os esforços para aumentar os investimentos e melhorar a qualidade do gasto público. A ser mantida a coalizão, a presidente continuará a ter problemas até o fim de seu governo.

Sabia disso o ex-presidente Itamar Franco, que botou quem quis no seu governo e esse foi o segredo do seu sucesso.

Fonte: O Tempo

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