Pela porção mineira da Fernão Dias estão espalhadas histórias de vidas perdidas nos tempos da pista simples, das que se salvaram graças às mudanças e dos abusos que não são freados nem mesmo pela modernização da estrada
Thobias Almeida
Publicação: 10/07/2011 07:25 Atualização: 10/07/2011 07:28
Porção Sul da 381 foi duplicada pelo governo federal e concedida em 2008. Obras e manutenção reduziram a gravidade dos acidentes, mas faltam controle de velocidade e correções no traçado
Campanha – A equipe do Estado de Minas percorreu 312 quilômetros da Fernão Dias, no trecho entre Belo Horizonte e Campanha, no Sul do estado, para ouvir as histórias de quem usa a rodovia e convive com seus desafios. Pelo caminho, descobriu relatos de mortes que poderiam ter sido evitadas pela duplicação das pistas, e também de vidas salvas pela infraestrutura atual. Mas constatou também que, por mais segura e bem conservada que seja uma rodovia, a imprudência continua a fazer vítimas.
São histórias como a de Renilda Helena Mesquita, moradora de Campanha, que não contém as lágrimas quando recupera na memória a imagem do filho Adriano Mesquita, caminhoneiro, que morreu aos 27 anos na Fernão Dias já duplicada, próximo ao km 899, depois de bater na traseira de uma carreta, parada na pista sem a devida sinalização. No dia 7, o acidente completou seis anos. “Ainda penso que ele está viajando e que a qualquer hora vai entrar pela porta”, diz a mãe, desolada. O drama de Renilda é grande, pois há 19 anos o marido, José Jorge Mesquita, também morreu em um acidente rodoviário. “Fiquei traumatizada com estradas. As pessoas deveriam respeitar umas as outras no trânsito, deveriam tomar mais cuidado”, sintetiza.
O policial rodoviário federal aposentado Alexandre Dumas Pinheiro, de 57 anos, fiscalizou a BR-381 por 28 anos. Morador de Perdões, na Região Centro-Oeste, conhece casos surpreendentes que ocorriam à época em que a estrada era de pista simples. “Ainda me lembro dos motoristas de uma empresa de ônibus que, ao se cruzarem em uma reta, trocavam de mão só por brincadeira. Um dia, um motorista novato não sabia disso, ficou no mesmo lugar e a batida de frente matou na hora mais de 10 pessoas”, relembra Dumas.
O policial confirma que os acidentes aumentaram depois da duplicação, mas a gravidade caiu. Ele aponta que o crescimento das batidas se deve ao aumento da frota de veículos e à imprudência dos condutores. “O excesso de velocidade não permite qualquer reação frente a um imprevisto e, muitas vezes, causa a colisão frontal, que agora é mais rara”, opina.
Apesar de a estrada estar em boas condições, ainda precisa de reparos. Persistem no traçado, ora marcado pela sinuosidade, ora por longas retas, problemas como pontes e viadutos em curvas e, em alguns trechos, a falta de obstáculos físicos que impeçam um veículo de invadir a contramão.
A Fernão Dias foi duplicada com dinheiro público. As obras, feitas em duas etapas, tiveram início em 1994 e foram concluídas em 2005. O custo do trecho de 485 quilômetros que fica dentro de Minas Gearais girou em torno de R$ 1 bilhão, sendo 50% do Banco Mundial, 25% do governo federal e o restante dividido igualmente entre Minas e São Paulo, conforme informou a Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas. A rodovia, por onde passam diariamente 175 mil veículos, considerando também o fluxo paulista, foi concedida a uma empresa privada em 2008, com prazo de 25 anos. Carros de passeios pagam R$ 1,30 de pedágio. São oito praças até a divisa com São Paulo.
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Fonte: Portal Uai
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