sexta-feira, 1 de julho de 2011

Dnit e PRF cedem à pressão e liberam carretas na BR-381

Sabará.Decisão foi tomada após bloqueio da rodovia por 14 horas em um protesto de caminhoneiros

Especialista alerta para risco de a estrutura cair; PRF reconhece perigo

TÂMARA TEIXEIRA

    FOTO: ALEX DE JESUSCaminhoneiros bloqueiam a rodovia BR - 381 , em Sabara , regiao Parado. Congestionamento, na manhã de ontem, chegou a 6 km nos dois sentidos da BR-381

    Mesmo com o risco de acidentes na ponte provisória do rio das Velhas, na BR-381, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) liberaram ontem o tráfego de carretas no local. A decisão foi tomada depois que 200 caminhoneiros bloquearam a rodovia por 14 horas. Eles protestavam contra a restrição na rodovia, em vigor desde abril. O congestionamento chegou a 6 km nos dois sentidos da estrada, na altura de Sabará, na região metropolitana de Belo Horizonte.

    O assessor de imprensa da PRF, inspetor Aristides Júnior, reconhece que há risco de acidentes, já que muitas carretas rodam acima de 60 t, peso máximo que a estrutura da ponte suporta. Os caminhões do tipo bitrem e rodotrem vazios também passaram a ter acesso à ponte. "As carretas podem rodar até 60 t. O problema é que os caminhoneiros trafegam acima desse limite. A nota fiscal pode constar 60 t, mas muitos burlam isso. Nesse caso, haveria risco de a ponte ceder, sim, por exemplo, por causa da sobrecarga", diz. O Dnit nega que haja perigo.

    O engenheiro civil da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Hélvio Piancastelli demonstra preocupação com a liberação do trafego. "Uma ponte projetada para aguentar 60 t costuma suportar um pouco mais, talvez 65 t. No entanto, essa é uma estrutura provisória e a reserva de segurança costuma não ser a mesma da definitiva. Também pode haver risco se duas carretas passarem juntas e a soma do peso for superior a 60 t", explica o especialista.

    Segundo o Dnit, a ponte tem 50 m. O órgão garantiu que, até o fim da próxima semana, irá instalar uma balança em cada sentido da rodovia.

    Transtornos. A negociação antes da liberação da BR-381 foi longa. O resultado de 14 horas de interdição foi muito transtorno para quem precisava passar pela rodovia. Edson Garcia, um dos manifestantes, diz que a insatisfação dos caminhoneiros que estão proibidos de rodar no local desde 20 de abril, quando a ponte cedeu, chegou ao limite. "Não dava mais para continuar. O transtorno é enorme. Temos o direito de ir e vir", afirma.

    O encarregado Oswaldo Gomes não conseguiu pegar o ônibus em Santa Luzia, na região metropolitana, para chegar ao trabalho, na capital. "Esperei três horas. Liguei na empresa e avisei que iria faltar", conta.

    O trânsito da 381, na altura de Sabará, no sentido de Belo Horizonte, voltou a ficar lento na noite de ontem. Em um grave acidente, um motoqueiro de 24 anos morreu ao ser atingido por uma carreta.

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    Transtornos

    Pista fechada prejudica motoristas

    O bloqueio da BR–381, na altura de Sabará, trouxe transtornos para motoristas, diversos setores da capital e cidades vizinhas. Nas três escolas municipais que atendem a Sabará, as aulas foram suspensas – 600 alunos foram prejudicados. O transporte da prefeitura chegou a buscar os estudantes em casa, mas não conseguiu chegar às escolas. Os professores também ficaram presos na rodovia. Segundo o secretário de Educação Alair da Conceição, os alunos terão as aulas repostas.

    O prefeito de Sabará, Willian Borges, diz que o comércio na cidade também foi prejudicado, e grande parte dos comerciantes não conseguiu abrir as portas. O atendimento no hospital municipal também ficou comprometido, já que os funcionários não conseguiram chegar ao local no horário de costume.

    O comerciante Aílton Silva lamenta que o dia tenha sido perdido para toda a família. "Minha filha não teve aula, em Sabará. Minha mulher não conseguiu trabalhar em Belo Horizonte, e eu me atrasei por horas", diz. (TT)

    Propina

    PRF. Alguns caminhoneiros denunciaram ontem, durante a manifestação, que parte dos policiais rodoviários federais estava cobrando propina para a liberação de veículos proibidos de circular pela ponte. O valor variava entre R$ 20 e R$ 100. A PRF nega a acusação e diz que só irá investigar o caso se alguma denúncia for formalizada.

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    BRs viram "via crúcis’"rumo a Belo Horizonte

    Magali Simone

    Atrasos na chegada ao trabalho, demora na entrega de mercadorias e reclamações sem fim. Os transtornos já viraram rotina, mas continuam sendo um pesadelo diário para quem trafega pelas principais rodovias que levam à capital, como as BRs 040 e 381.

    A perda de clientes e até mesmo o risco de demissão são alguns dos fantasmas que atormentam motoristas, usuários do transporte público e comerciantes que dependem desses acessos a Belo Horizonte.

    O transportador José Cunha possui quatro caminhões de pequeno porte. Ele conta que já perdeu as contas dos prejuízos e das reclamações que recebeu de clientes devido aos atrasos nas entregas desde o dia 20 de abril, quando um problema estrutural levou à interdição da ponte na BR–381 sobre o rio das Velhas, em Sabará, na região metropolitana.

    "Antes da ponte provisória, tínhamos que ficar horas esperando a triagem dos caminhões que poderiam passar por dentro de Santa Luzia", lembra Cunha. "Ficamos encurralados. De um lado, a população, que tem razão em temer o tráfego de veículos pesados. Do outro, nós, que temos prazos. Acabamos ficando prejudicados", reclama o empresário.

    Morador do bairro Borges, em Sabará, o marceneiro Cláudio Eduardo trabalha em Belo Horizonte e se diz inseguro em relação à manutenção do emprego. Mesmo antecipando a saída de casa em até uma hora, ele afirma que os atrasos continuam frequentes.

    "As autoridades sabiam que a ponte estava abalada há muitos anos. Quem precisa atravessá-la para chegar ao trabalho tem que sair de madrugada. Por que não fizeram nada antes?", questiona o marceneiro.

    Precaução. Outros prejudicados são os moradores do interior que buscam atendimento médico na capital. O motorista Geraldo Paulino Braga, que transporta pacientes entre Vespasiano, na região metropolitana, e Belo Horizonte, afirma que é necessário sair às 5h para evitar atrasos nas consultas de seus passageiros.

    "As consultas são marcadas para a manhã e, por isso, saímos bem mais cedo. Qualquer acidente pode prejudicar o atendimento, então, somos obrigados a nos precaver", afirma.

    Fonte: O Tempo

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