sexta-feira, 1 de julho de 2011

Eterno tormento

Manifestantes fecham rodovias federais em dois extremos da cidade, protestando contra problemas que são velhos conhecidos da população, mas que o Dnit não consegue resolver

Paula Sarapu e Valquiria Lopes

Paulo Filgueiras/EM/D.A Press20110630220505675Nas pontes provisórias da 381, com capacidade para até 60 toneladas, polêmica decorre da falta de balança que indique quais veículos de carga podem transpor a travessia. Bloqueio durou 13 horas

O fechamento de dois dos mais importantes acessos rodoviários a Belo Horizonte durante grande parte do dia de ontem deixou ilhados milhares de motoristas, transtornou a rotina de outros tantos cidadãos e expôs o descaso no trato com a malha federal no estado. Em um extremo, caminhoneiros fecharam a BR-381, na saída para Vitória, em protesto contra a falta de balança e a proibição de tráfego de veículos de grande porte sobre as pontes provisórias instaladas no trecho. Foi o ponto alto de uma sucessão de equívocos, que começou com a interdição da travessia, em 20 de abril, às vésperas do feriadão da semana santa, quando a estrutura de concreto sucumbiu à manutenção ineficaz. O estopim da crise de ontem foi a intensificação da fiscalização da Polícia Rodoviária Federal (PRF) sobre a transposição, além de denúncias de que a restrição ao tráfego vinha sendo burlada graças ao pagamento de propina a policiais. Enquanto a manifestação desafiava a paciência dos condutores a nordeste da capital, quem tentava chegar à cidade pelo acesso sul parava em outro protesto, na BR-040. A rodovia que dá acesso ao Rio de Janeiro foi tomada por moradores da cidade de Congonhas, na Região Central do estado, em resposta a mais um problema sem solução: os sucessivos atropelamentos na estrada, que no dia 18 fez mais duas vítimas. A interdição, na manhã de ontem, foi a terceira desde o duplo atropelamento, que matou uma mulher. Os dois primeiros atos reivindicando a instalação de uma passarela não deram qualquer resultado, assim como foram inúteis os movimentos anteriores de caminhoneiros na BR-381.

Na BR-381, o protesto de ontem foi mais um capítulo da novela de erros e transtornos em que se transformou a vida de quem depende da travessia sobre o Rio das Velhas, no Bairro Borges, em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, para chegar ao Vale do Aço, Leste de Minas e Espírito Santo. Os problemas iniciados com a interdição da ponte, que cedeu após um dos pilares ter afundado, se desdobraram ao longo dos últimos três meses. Desde então, o caos se instalou no local, por onde passam diariamente cerca de 60 mil veículos, e tem se irradiado quilômetros afora. O último lance desse roteiro de descaso teve início na noite de anteontem, quando caminhoneiros fecharam a estrada. O protesto diante da proibição de usar as pontes metálicas provisórias instaladas pelo Exército durou quase 13 horas.

Com capacidade para suportar veículos de até 60 toneladas, as travessias estavam abertas apenas para trânsito de carros de passeio, ônibus e caminhões de pequeno porte, já que não foi ainda instalada no trecho uma balança que indique quais veículos de grande porte poderiam cruzar as estruturas. Carretas de até 60 toneladas, veículos articulados vazios e caminhões com cabine e dois eixos (articulados) só poderiam circular depois que o Dnit instalasse o equipamento para pesagem da carga. Com isso, a única alternativa para chegar ou sair da capital pela BR-381 (no sentido Vitória) passou a ser a BR-040 e a BR-356, passando por Ouro Preto e Mariana, uma volta que acrescenta 80 quilômetros à viagem.

No protesto iniciado por volta das 20h de anteontem, caminhoneiros que vinham no sentido João Monlevade/Belo Horizonte atravessaram carretas e caminhões articulados na cabeceira da ponte, ao serem barrados na travessia. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) acabou fechando a passagem nos dois sentidos da rodovia. No início da manhã de ontem, apenas motociclistas puderam circular pelo trecho interditado. O sentido João Monlevade também ficou completamente engarrafado. Revoltados, muitos passageiros que seguiam de ônibus para o trabalho preferiram caminhar quilômetros às margens da estrada. A quem não tinha essa opção, restou a espera, que em muitos casos representou prejuízos e compromissos cancelados.

Do outro lado da ponte, em Sabará, caminhoneiros colocaram fogo em pneus e pedaços de madeira, mobilizando os bombeiros. “Demoramos duas horas para percorrer três quilômetros. Sou da Igreja Batista da Lagoinha e vou levar uma amiga de Recife para um retiro com o grupo em Sabará. O carro e o ônibus parados em nossa frente também vão para lá. Já estamos atrasados, porque o evento começava às 9h”, disse o voluntário Thiago Guedes, de 23, ao lado do supervisor operacional Alan Leonardo Souza, de 19, que estava atrasado para o trabalho. “Se não fosse a manifestação, a gente já estaria de volta a BH.” No banco de trás, a amiga Júlia Vieira, de 19, já tinha até cochilado.

O engenheiro F.R.S., de 50 anos, precisou sair de casa, na Região Centro-Sul da capital, para buscar uma parente que vinha de Teófilo Otoni, com cirurgia marcada em BH. A paciente ficou parada na estrada em um ônibus de turismo, desde a madrugada, e só conseguiu chegar de carona na moto do engenheiro. “Ela não tinha como remarcar a cirurgia. Ia ter que esperar um tempão de novo para isso. Não teve jeito, tive que buscá-la de moto. E onde foi parar o direito de ir e vir do cidadão? Eles (os caminhoneiros) não sabem que é arriscado passar com peso demais na ponte?”, questionou.

LIBERAÇÃO

Apenas por volta das 9h, os manifestantes liberaram a passagem de ambulâncias e carros de passeio pelas pontes. Ainda assim, o trânsito permaneceu lento, pois os condutores de caminhões impedidos de atravessar continuavam exigindo liberação para seus veículos. Por volta das 11h, o Dnit autorizou a PRF a abrir o acesso, após informar que a ponte suportaria o peso de grandes caminhões. Mesmo assim, carretas bitrem, rodotrem carregadas e veículos de carga com excesso lateral só poderão voltar a circular quando a ponte definitiva estiver construída. Como alternativa, motoristas estavam desengatando a cabine de um dos eixos e atravessando em duas etapas. “Estamos tendo que usar a criatividade para passar por aqui, já que por Ouro Preto gasta-se mais tempo e combustível, além dser perigoso. O que não entendo é que, se liberaram hoje, por que não fizeram isso antes?”, questionou o caminhoneiro Breno de Oliveira, de 30 anos.

BALANÇAS

A instalação dos equipamentos de pesagem foi uma exigência da PRF, responsável pela fiscalização na rodovia, sob alegação de que as notas fiscais, que informam o peso da carga e do veículo, podem ser facilmente adulteradas. Os pedidos, feitos um dia antes da liberação das pontes metálicas, incluem quebra-molas, placas e iluminação especial. Na ocasião, o Dnit havia pedido 15 dias para instalação dos equipamentos, tempo que terminaria na próxima semana. Diante da situação de ontem, o órgão pode antecipar o prazo. A ponte definitiva e seus acessos serão elevados em um metro de altura, antecipando o projeto de duplicação da BR-381. A previsão da obra é de até seis meses. No futuro, a ponte será via de mão única e outra deve ser construída para atender motoristas no sentido contrário. A demolição e reconstrução da ponte estão orçadas em cerca de R$ 40 milhões.

Fonte: Estado de Minas

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