domingo, 13 de maio de 2012

Carros matam mais que motos em Minas Gerais

Mortes em acidentes de trânsito quase dobraram em 10 anos no estado, que registra a menor taxa de óbitos sobre duas rodas no país, segundo pesquisa

Sandra Kiefer -

Gustavo Werneck -

Publicação: 08/05/2012 06:00 Atualização: 08/05/2012 07:02

20120508005916140846eJacqueline mostra foto do irmão, Adelson, que morreu na Rodovia Fernão Dias, quando sua moto foi jogada sobre mureta por um carro

As mortes em acidentes de trânsito cresceram de forma assustadora em uma década em Minas Gerais. Enquanto 2.247 pessoas morreram em desastres no estado em 2000, 10 anos depois, o número de óbitos quase duplicou, saltando para 4.044. A alta de 80% é a maior da Região Sudeste, que tem a maior frota do país. Minas, na contramão da maioria dos estados, tem menos mortes (por 100 mil habitantes) em acidentes com motos. O percentual de óbitos de motociclistas no estado foi de 20,7% em 2010, o menor do país.

Nada a comemorar. É que os carros matam mais em Minas, apesar de o transporte sobre duas rodas ser 17 vezes mais perigoso na comparação com o de quatro rodas, segundo o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, coordenador do Mapa da Violência 2012, levantamento detalhado sobre a endemia das mortes motorizadas no Brasil, realizado pelo Instituto Sangari, de São Paulo. Em números relativos, Minas também lidera o ranking do Sudeste, com 64,3 óbitos em 100 mil habitantes em acidentes de trânsito em geral, mais do que o triplo em relação ao segundo lugar, ocupado pelo Espírito Santo, com 19 mortes em 100 mil. São Paulo registra o menor índice, com 4,3 mortes/100 mil.

Em números absolutos, porém, os motoristas paulistanos, especialmente motoboys, ainda se envolvem em mais acidentes com mortes do que os mineiros. Enquanto Minas totalizou 4.044 acidentes de trânsito em geral em 2010, São Paulo liderou o ranking nacional, com 6.946 ocorrências. Paraná vem em terceiro lugar (3.436). Há 10 anos, porém, os motoristas mineiros nem figuravam entre os três primeiros lugares. Com 2.247 acidentes com mortes, Minas perdia para Paraná (2.472), Rio de Janeiro (2.596) e tinha menos da metade dos acidentes de São Paulo (5.978).

O doutor em engenharia de transportes e professor de segurança viária do Cefet Frederico Rodrigues explica que Minas tem a maior malha rodoviária do país e que os acidentes com motos, predominantemente urbanos, ainda não ultrapassaram as tragédias diárias que ocorrem nas rodovias. “Com o agravante da nossa topografia acidentada, que resulta em estradas com muitas curvas, e da maior malha de rodovias de jurisdição federal, que não tem o mesmo tratamento que as rodovias concessionadas da iniciativa privada”, completa.

Para o engenheiro, o problema não é a moto em si, mas a forma como ela é conduzida. “Os motoqueiros são bastantes ousados no trânsito, alguns pelo lado pessoal e muitos em função da tarefa a cumprir como motoboy, pondo o risco de vida acima da própria segurança”, afirma. Ele lembra que os motociclistas ainda evitam dirigir nas estradas e são poucos os registros de óbito envolvendo motos em rodovias. Com os carros, ocorre situação inversa. Os acidentes que resultam em óbitos na malha urbana ocorrem em vias de trânsito rápido, como no Anel Rodoviário ou em momentos de baixo fluxo viário, como nas madrugadas.

“Minas pode não ter a cultura da moto, como Rio e São Paulo, mas é só uma questão de tempo”, alerta o pesquisador do Instituto Sangari. Segundo ele, o Brasil já é o segundo do mundo em número de mortes em acidentes de moto (7,1 óbitos a cada 100 mil habitantes), perdendo apenas para o Paraguai (7,5). Se nada for feito, a tendência está mostrando que, para 2015, as mortes de motociclistas vão representar mais da metade do total das mortes no trânsito.

Segundo Waiselfisz, a moto passou a ser vista como solução para o transporte da classe trabalhadora, pois ocuparia menos espaço nas ruas do que os carros e consumiria menos combustível. Segundo ele, “houve facilitação de crédito para compra de motos, autorizações para instalação de fábrica de motos na Zona Franca de Manaus e até uma certa vista grossa na fiscalização de exames de direção e no cumprimento às regras do trânsito”.

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Desastres sem fim

O motorista Adelson Silva Costa, então com 29 anos, tinha muitos planos. Com apenas três anos de casado, terminava a construção de sua casa em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e pretendia ter muitos filhos com a mulher, Raquel, de 26. Mas os sonhos foram interrompidos em 17 de outubro do ano passado, quando Adelson morreu num acidente na Rodovia Fernão Dias. “Ele estava na moto quando um carro o jogou sobre a mureta divisória da estrada e não parou para prestar socorro”, diz a irmã Jacqueline Silva Costa, de 36, casada, moradora de Contagem, na Grande BH.

Emocionada com a perda, que deixou a família com o coração em frangalhos, Jacqueline conta que o irmão ficou internado 10 dias no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, em BH. “Teve traumatismo craniano e não resistiu. Esperávamos que ele melhorasse, ficou em coma induzido, uma situação semelhante à do filho do cantor Leonardo”, compara Jacqueline. “Praticamente o criei, pois, logo que a minha mãe voltou da licença-maternidade, eu, ainda bem criança, passei a ficar com ele em casa”, conta.

A dona de casa Maria da Conceição Oliveira Miguel, de 71, de Santa Luzia, se mostrava um pouco aliviada com a melhora do neto Leonardo Luiz. “Foi um caso de negligência. Sem carteira, ele pegou escondido a moto de um amigo e se acidentou. Está internado há dois meses e vai ter alta nos próximos dias, graças da Deus”, disse.

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Fonte: Portal Uai

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