segunda-feira, 7 de maio de 2012

Pesquisa diz que maioria de caminhoneiros envolvidos em acidente usava drogas

Pesquisa inédita com caminhoneiros mostra que maioria dos envolvidos em acidentes usava drogas que espantam o sono, mas alteram comportamento e põem zumbis à solta em estradas

Mateus Parreiras

Publicação: 06/05/2012 07:15 Atualização: 06/05/2012 11:53

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Caminhoneiro da cidade de Anapolis, em Goias, fala sobre o uso de estimulantes proibidos no estacionamento da CEASA-MG.

Caminhoneiros que batem, tombam seus veículos ou atropelam pedestres nas estradas que conduzem a Minas Gerais guiam sem dormir, turbinados por estimulantes à base de anfetaminas. A proporção é o que indica pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais com condutores de veículos de carga nas Centrais de Abastecimento de Minas Gerais (CeasaMinas), em Contagem, na Grande BH. O trabalho inédito mostra que 50,9% dos condutores de cargas que se acidentaram fazia uso das drogas conhecidas como rebites, cuja importância no universo dos desastres nunca foi estudada a fundo. A estatística é ainda mais alarmante quando se leva em conta que praticamente um a cada dois acidentes em rodovias mineiras no ano passado teve envolvimento de carretas e caminhões, como mostrou a série “Homens-bomba ao volante”, publicada pelo Estado de Minas entre janeiro e fevereiro.

Motoristas que tomam anfetaminas se tornam eufóricos, têm a capacidade de julgamento afetada e não dormem por horas a fio. O risco de causar um acidente quando seus reflexos falharem ou de dormirem quando o efeito do rebite passar é 95% maior do que o de quem não consome drogas. A proporção é resultado do cálculo de prevalência feito pela equipe de pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas, coordenada pelo professor e médico-perito Leandro Duarte de Carvalho. “Concluímos que o problema das anfetaminas nas estradas é tão grave quanto o do álcool nas ruas da cidade. E é algo de que o caminhoneiro dificilmente consegue escapar, na situação atual, com a pressão, o prazo de entrega, os prêmios, as comissões, tudo para apressá-lo”, considera o médico.
A pesquisa foi feita com entrevistas entre 2008 e 2010 e será apresentada neste ano no 22º Congresso da Academia Internacional de Medicina Legal (IALM), em Istambul, na Turquia. Foram 216 entrevistados, dos quais 51,3% admitiram fazer uso de anfetaminas para dirigir. A CeasaMinas foi escolhida por concentrar motoristas de diversas as estradas do Brasil, que têm um prazo de entrega mais rígido, por transportar quase sempre produtos perecíveis. “É importante que não culpemos apenas os caminhoneiros, taxando-os de irresponsáveis. A condição de trabalho da categoria é muito ruim”, alerta Carvalho. “Numa certa perícia que fiz, o caminhoneiro acidentado disse ter dirigido por 17 horas direto. Não acreditei, porque é um esforço desumano. Solicitei os registros da empresa. Para minha surpresa, os dados confirmaram a alegação do motorista”, conta o médico.

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O que parecia caso isolado se mostrou quase uma regra depois da pesquisa. Dos entrevistados que consomem anfetaminas, 86,9% afirmaram conduzir o veículo por mais de 13 horas ininterruptas, sendo que 75,8% disseram dormir menos de cinco horas diárias. A frequência de utilização da droga também é alta: 57,1% dos entrevistados afirmaram usar os estimulantes pelo menos três vezes por semana. “Tomo rebite direto para rodar por três dias seguidos. Se não for assim, não dou conta. E é meu próprio patrão quem diz para não esquecer dele (do rebite)”, admite um caminhoneiro de Anápolis (Goiás) que roda 820 quilômetros até Minas para entregar 17 toneladas de abacaxi na CeasaMinas. A rotina já conduziu a acidentes. No último, o efeito do rebite passou e o caminhoneiro dormiu de repente, atingindo a traseira de uma carreta que seguia na frente. Assustado, acordou entre as ferragens retorcidas, sentindo dores lancinantes.
A situação que envolve profissionais como ele é tão grave que somente um acordo que envolvesse sindicatos, empresas, fiscais das polícias rodoviárias, Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) e Departamentos de Estradas de Rodagem poderia resolvê-la, afirma o médico perito Leandro Carvalho. “Os sindicatos não deixam as empresas fiscalizar os caminhoneiros e fazer testes específicos para dosagens de substâncias. Muitas empresas também não se empenham, pois exigem muito dos caminhoneiros”, considera. Enquanto isso, a fiscalização é inócua. “Os bafômetros brasileiros não conseguem apontar quem usou drogas, uma vez que são desenhados para detectar a presença de álcool. Temos de mudar nossa mentalidade. As anfetaminas estão matando nas estradas e equipamentos de testes rápidos para essas substâncias são mais baratos que um etilômetro. Mas falta interesse para motivar uma fiscalização adequada destes condutores”, alerta o especialista.

"Rodei três dias vidrado. Nem lembro do rebite passando. Só apaguei. Dei por mim todo cortado, no meio dos ferros do meu caminhão e os da traseira da carreta em que bati. A dor era demais. Achei que fosse morrer"
, caminhoneiro de 33 anos, de Anápolis (GO)

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Fonte: Portal Uai

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Além de rebite e álcool, caminhoneiros usam estimulantes sexuais

Mateus Parreiras

Publicação: 06/05/2012 10:06 Atualização: 06/05/2012 11:17

O coquetel explosivo de anfetaminas e álcool usado por caminhoneiros que dirigem pelas estradas de Minas para se manter acordados por dias a fio inclui ainda estimulantes sexuais. Nos postos onde param para abastecer os veículos ou dormir depois de noites seguidas em claro, os condutores compram remédios para disfunção erétil proibidos no Brasil, para manter relações sexuais com travestis e garotas de programa. O mix de substâncias agrava as condições de quem precisa dirigir. “Com a mistura, no final o caminhoneiro se torna muito ativo. Ligadão mesmo. Só que a capacidade de interpretar os estímulos sensoriais fica completamente distorcida, o que prejudica a direção na estrada”, considera o médico perito e professor da Faculdade de Ciências Médicas Leandro Duarte de Carvalho, coordenador da primeira pesquisa em Minas Gerais sobre o uso de anfetaminas por caminhoneiros.

Embora o estudo não tenha abordado o uso de estimulantes sexuais, na condição de médico o especialista explica que essas substâncias têm propriedades vasodilatadoras que permitem as ereções, mas têm repercussão global no corpo. “Isso se agrava com o álcool e as anfetaminas. Há quem tenha problemas até no globo ocular, causando visão distorcida”, afirma o médico. “É uma condição crítica para acidentes graves. O álcool e a anfetamina provocam alterações na pressão arterial e no metabolismo. Isso é especialmente perigoso para quem toma um estimulante sexual, que não é recomendável para hipertensos e pacientes cardíacos”, alerta.

Mesmo com os riscos, não é difícil encontrar quem tome esses coquetéis antes de subir na boleia. Em dois postos de abastecimento do Anel Rodoviário de Belo Horizonte e em uma borracharia de Contagem, na Grande BH, às margens da BR-040, por exemplo, a equipe do Estado de Minas encontrou verdadeiras farras de álcool e medicamentos.

Em Contagem, por exemplo, enquanto um grupo bebe cerveja e janta, dois condutores voltam da borracharia, que fica mais afastada, no fim do pátio escuro onde motoristas fazem reparos nas carretas. É nesse lugar que três borracheiros traficam drogas.

A dupla retorna com três cartelas de rebites compradas a R$ 70 e os estimulantes sexuais, que custam R$ 10. As anfetaminas são na verdade remédios para controle de peso e só podem ser vendidas com receita médica. Um dos homens bate no bolso, indicando aos amigos a encomenda que o grupo usará para seguir viagem.

Um integrante do grupo se levanta e pede um “azulzinho”, como chamam os estimulantes sexuais, numa referência à cor da pílula ilegal. “Vai tomar com água?”, pergunta o mais baixo. “Água destilada, ‘rapá’”, responde o primeiro, mostrando a cachaça. Segundo o Sindicato da União Brasileira dos Caminhoneiros, esse tipo de situação ocorre devido aos baixos preços do frete e às duras jornadas. Já a CeasaMinas, onde foi feita a pesquisa da equipe da Faculdade de Ciências Médicas com os condutores, informou que tem várias ações educativas e de estímulo à saúde dos caminhoneiros.

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Fonte: Portal Uai

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Risco de acidente cresce e repressão diminui nas estradas

Mateus Parreiras

Publicação: 06/05/2012 11:40 Atualização: 06/05/2012 12:28

20120506114814580262iIresponsável eu seria se não tomasse rebite. Tenho que dirigir às vezes 18 horas sem parar. Prefiro tomar e viver do que morrer dormindo ao volante - Caminhoneiro de 23 anos, de Itaguara, na Região Central de Minas

De um lado, os caminhoneiros, aflitos por conseguir ganhar tempo em suas viagens, têm oferta ampla de drogas estimulantes. Nas estradas, os produtos ilegais são fornecidos por redes de traficantes, farmácias, restaurantes, postos de abastecimento, prostitutas e travestis, como mostrou a série de reportagens “Homens-bomba ao volante”. Por outro lado, enquanto deveriam ampliar a repressão, as forças policiais inibem cada vez menos essa atividade ilícita. No caso da Polícia Rodoviária Federal, as apreensões de anfetaminas (rebites) no ano passado foram as menores dos últimos quatro anos.

O volume dessas drogas recolhidas em 2011 se resumiu a 1.016 unidades, o que representa redução de 79% frente às 4.747 unidades apreendidas no ano anterior. Em 2009, foram 1.886 comprimidos e 2.759 em 2008. Apenas 27 caminhoneiros foram conduzidos a delegacias por uso de substâncias entorpecentes no ano passado inteiro, também o pior rendimento em quatro anos. O número representa 76% menos do que o ano anterior, quando 113 motoristas foram detidos. Em 2011, a PRF autuou 12 estabelecimentos por venda ilegal de anfetaminas, menos da metade dos 26 notificados em 2010. A corporação informou que tem ampliado as ações educativas como forma de reprimir o tráfico e a prostituição, e tem feito operações específicas para combater esses casos.

A Polícia Civil não conseguiu resultados melhores. A prostituição e a venda de anfetaminas manipuladas em farmácias das cidades de Frei Inocêncio e Matias Lobato, no Vale do Rio Doce, segue embalada nas mãos de prostitutas, frentistas e até de adolescentes aliciadas pelas próprias famílias, como mostrou o EM. “Não temos policiais lotados nesses locais, mas vamos investigar essa rede para coibi-la”, disse o delegado regional de Governador Valadares, responsável pela região. Em Montes Claros, no Norte de Minas, operações de repressão ao tráfico que usa prostitutas para chegar aos caminhoneiros ainda estariam sendo programadas.

Apenas a polícia de Resplendor, no Vale do Rio Doce, conseguiu rastrear e abriu inquérito para apurar a o tráfico de drogas com envolvimento de travestis em Governador Valadares, feito por meio do caminhão de uma cooperativa da cidade, como mostrou o EM. “O suspeito foi identificado e a empresa o demitiu. Todos os 52 motoristas fizeram exames toxicológicos. Estamos investigando as ligações dele com traficantes de Aimorés. A esposa disse que acredita nele e que o marido não tinha envolvimento com travestis”, disse o inspetor José Carlos Oliveira.

Fonte: Portal Uai

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