domingo, 27 de maio de 2012

Interferência de invasores em rodovias compromete a segurança nas pistas

Perigo em 'casa'

Na BR-381, moradores chegam a fazer obras por conta própria para tentar se proteger

Mateus Parreiras

Publicação: 27/05/2012 07:39 Atualização: 27/05/2012 07:53

20120527074126246687iO aposentado Alcides da Mata fez uma espécie de muro com pneus e foi notificado para regularizar situação

Nova Era – O medo de que parte da BR-381 desabasse sobre sua casa fez o aposentado Alcides Margadida da Mata, de 48 anos, juntar 650 pneus nas borracharias próximas para montar um muro de arrimo de seis metros de altura. Foram quatro dias para encher os pneus de terra e escorar a rodovia federal no trecho que passa em Nova Era, na Região Central. O vizinho do lado, que constrói uma casa, ainda não precisou fazer o mesmo, porque a vegetação ainda protege os alicerces da estrada. No trecho do quilômetro 327, moradias são levantadas em terras da faixa de domínio da rodovia sem qualquer interferência do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit), comprometendo alguns pontos da rodovia.

A interferência de invasores nas rodovias, como ocorre no caso da BR-381, é um dos principais problemas da ocupação irregular de faixas de domínio. O Anel Rodoviário de Belo Horizonte chegou a ser interditado no ano passado por conta de invasões. Em 19 de dezembro, a estrutura apresentou rachaduras na pista durante a temporada de chuvas. Só este mês o trecho foi liberado. De acordo com os engenheiros do Dnit, moradores de área invadida da Vila Cachoeirinha, a menos de dois metros do acostamento, bloquearam a drenagem da estrada, o que teria comprometido a sustentação da cabeceira da ponte. Foi preciso remover 15 famílias daquele ponto antes de as obras terminarem.

A falta de fiscalização contribui para o problema. Na BR-381, o Dnit só descobriu a ocupação irregular depois que o aposentado Alcides da Mata apresentou reclamação formal à autarquia sobre a falta de sistema de drenagem no trecho da rodovia sobre sua casa, em Nova Era. “A água das chuvas desce e vai lavando meu terreiro e já está acumulando”, conta, mostrando a altura da cintura. Ele mostra a carta de resposta do Dnit em que o órgão diz que, antes de qualquer providência, os imóveis invadem a faixa de domínio e precisam ter sua situação regularizada na Justiça. “É um absurdo. Não vão arrumar nada e agora dizem que vão me tirar daqui. Moro há 13 anos na casa com minha mulher, a filha, o genro e duas enteadas, e nós pagamos IPTU, energia, iluminação pública, água, esgoto”, reclama Alcides.

Morar no trecho da BR-381 perto de Nova Era é perigoso. Só no ano passado, foram registrados cinco acidentes com oito pessoas feridas. Um desses feridos foi o condutor de um Santana, que não conseguiu fazer a curva e voou por sobre a casa de Alcides. O carro parou no meio da garagem. “Eram umas 4h30. Só escutei a borracha no asfalto e depois aquele barulhão do carro se espatifando do lado da minha janela. Minha mulher e eu levantamos da cama num pulo”, relata.
Na entrada da cidade de Periquito, no Vale do Rio Doce, a 285 quilômetros de Belo Horizonte, as onze barracas que vendem palmitos, mexericas, tapetes coloridos e doces na beira da BR-381 representam risco principalmente quando motoristas de carros e carretas estacionam sobre o acostamento estreito para comprar, deixando a via sem qualquer área de escape.

Anel

Em Belo Horizonte, moradias condenadas e vazias, à espera das obras de ampliação do Anel Rodoviário, continuam sendo invadidas na Favela da Luz, no Bairro Jardim Vitória, Região Nordeste de Belo Horizonte. A vila fica numa bifurcação do anel que, pela esquerda, leva a Sabará; pela direita, segue para João Monlevade e Vitória. Cerca de 2,6 mil famílias vivem em invasões ao longo do Anel, segundo a Prefeitura de Belo Horizonte.

O servente Flávio Soares da Silva diz que o medo é constante. “É barulho de pneu de carreta, ferragem de carro arrastando no asfalto... Um horror”, define. O risco de acidentes é alto. A estudante Larissa Oliveira, de 15, já foi atropelada por uma moto. Ela teve fraturas e o motoqueiro quebrou as duas clavículas. "Não tem um dia em que não me lembro desse acidente. Tive sorte, não era a minha hora.”

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Fonte: Portal Uai

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“Sem controle, invasores arriscam a própria vida e a de motoristas ao se instalar à beira de rodovias em Minas”

Só nas estradas federais, há em média um aglomerado a cada 46 quilômetros. Autoridades admitem dificuldades em fiscalizar e remover famílias

Mateus Parreiras

Publicação: 27/05/2012 07:34 Atualização: 27/05/2012 07:39

Bela Vista de Minas – O comerciante Rodrigo José Placídio, de 23 anos, quase morreu num acidente na BR-381, entre Belo Horizonte e Governador Valadares. Perdeu a vista esquerda e ficou com cicatrizes no maxilar e na coxa. A camisa que veste tem o retrato do amigo de infância Shueyner, de 20, morto há dois anos ao atropelar um cavalo criado em área invadida da estrada. Mesmo diante de tantas tragédias, Rodrigo alugou há seis meses um lote invadido na curva do quilômetro 439 da BR-381, em Bela Vista de Minas, na Região Central do estado. Abriu uma revenda de carros, que ficam expostos a menos de um palmo do acostamento, sobre a linha da valeta de drenagem.

A pouco mais de 100 quilômetros dali, no Anel Rodoviário de Belo Horizonte, o servente Flávio Soares da Silva, de 36, convive há um ano com o barulho de carros, caminhões e carretas. Ele se instalou em uma bifurcação da estrada com a companheira e outros dois amigos. O casebre de tijolos com seis metros quadrados foi ocupado depois que uma carreta desgovernada entrou na construção e a deixou em ruínas, forçando os antigos moradores a sair. “A gente veio do Bairro Santa Efigênia e não tem nem cama. Só colchões no chão, umas panelas e uma grelha para esquentar arroz e sopa”, conta. Sem controle e fiscalização eficiente, casos como o de Flávio e Rodrigo se repetem ao longo de estradas federais mineiras.

Só na BR-381, entre Belo Horizonte e Governador Valadares, há 18 áreas invadidas por famílias, comerciantes e criadores de gado. No conjunto de todas as BRs, segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit), pelo menos 192 locais estão ocupados irregularmente por moradias, comércios, indústrias, pastos e criadouros de animais. Levando-se em conta os 8.965 quilômetros de estradas federais no estado, é como se houvesse um aglomerado de casas, barraquinhas de comércio, bares e criadouros a cada 46,7 quilômetros – distância menor do que os 51 quilômetros que separam a capital mineira de Brumadinho, na Grande BH. A BR-381 é a terceira via mais ocupada do estado, atrás das BRs 459 e 365 (veja números).

A ocupação clandestina das chamadas faixas de domínio – espaço mínimo livre de construções, de 15 metros a partir do acostamento – põe em risco tanto invasores como motoristas. Essas áreas servem de escape, de reserva de espaço para melhorias e reparos nas rodovias e ferrovias e também auxiliam na drenagem. Pior: as invasões podem ser mais numerosas. Segundo o Dnit, há invasões não registradas por serem muito antigas e estar em disputa judicial em processos abertos pelo extinto Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (Dner). O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), por sua vez, registra em áreas pertencentes a rodovias mineiras seis acampamentos de movimentos sociais com 422 famílias reivindicando terras. Já o Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) informou ter 18 processos na Justiça sobre áreas invadidas.

Risco Autoridades alertam para o perigo dessas invasões. A porta-voz da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Minas Gerais, Fabrizia Nicolai, aponta que o trânsito de veículos, pessoas e animais por esses locais não sinalizados e preparados para isso tornam os trechos propensos a batidas e atropelamentos. “A travessia de pedestres e carros é problemática e os carros ainda param nos acostamentos”, alerta. Só no ano passado, o quilômetro 439 da BR-381, onde a revenda de Rodrigo Placídio está instalada, registrou oito pessoas feridas em quatro acidentes, uma delas atropelada. De acordo com a PRF, no entanto, a corporação pouco pode fazer além de tentar impedir obras clandestinas. “Uma vez que a pessoa ocupa o local, cabe à Justiça removê-la ou não”, diz.

O Dnit também não consegue evitar a ocupação nas áreas de domínio. “Tenho uma equipe de seis pessoas e um carro velho estragado. Como vou verificar e notificar invasões nas centenas de quilômetros sob nossa jurisdição?”, desabafa, na condição de anonimato, um funcionário de uma unidade regional do Dnit. Por meio de nota, a assessora da autarquia em Brasília classificou a situação de Minas como “das mais complicadas do Brasil”. “Para remover uma família da área de domínio, a Justiça e o Ministério Público exigem que se encontre uma outra moradia para o invasor”, informou a nota. O Dnit não se pronunciou sobre a falta de estrutura das diretorias regionais.

192
É o número de invasões ao longo das BRs mineiras

35
É o total de invasões na BR-459, campeã do estado

20
É o número de BRs mineiras com invasões registradas

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Fonte: Portal Uai

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