terça-feira, 14 de julho de 2009

2009.07.14 - Manifestantes fecham a Rodovia da Morte por uma hora por duplicação - Jornal Hoje em Dia

Mateus Parreiras
Repórter
A BR-381 carrega uma estatística que faz valer o nome de Rodovia da Morte. São 11 vítimas, somente neste ano, nos 100 quilômetros entre Belo Horizonte e João Monlevade, na Região Central do Estado, o que corresponde a uma morte a cada 9 quilômetros. Segundo números da Polícia Rodoviária Federal (PRF), de janeiro até ontem foram pelo menos 69 feridos em 23 ocorrências consideradas graves. Média de um desastre a cada oito dias. E é por causa desses números, que assustam, e da dor de familiares e pessoas mutiladas entre as cerca de 200 curvas da estrada, que manifestantes interromperam o tráfego na via, ontem, por uma hora, em João Monlevade, provocando cerca de dez quilômetros de congestionamentos. Eles querem a duplicação da rodovia.

O movimento foi realizado ainda em Caeté, São Gonçalo do Rio Abaixo, Nova Era, Ipatinga e Governador Valadares. De acordo com os dados da PRF, os acidentes mais graves deste ano ocorreram em Caeté, onde foram registradas sete ocorrências graves. Uma delas, um acidente envolvendo uma van que transportava estudantes, no dia 12 de março, que resultou na morte de 5 pessoas e 13 feridos e motivou a realização dos protestos todo dia 13 de cada mês na rodovia.

Em João Monlevade ocorreram três acidentes graves e, em Sabará e Nova União, dois cada. Ontem, cerca de cem pessoas tomaram o trevo de acesso a João Monlevade, na altura do KM 359, e o de Caeté. Fecharam as duas pistas, por onde passam cerca de 20 mil veículos diariamente. Para lembrar as vítimas de acidentes, colocaram nos canteiros centrais e acostamentos 550 cruzes brancas e espalharam pelo trecho bandeiras negras, caixões, cadeiras de rodas com bonecos acidentados e veículos destruídos em colisões.
De acordo com a PRF, só em 2008 foram 138 mortos em acidentes em todo trecho mineiro da via, que vai de Pouso Alegre, no Sul de Minas, a São Vítor, na divisa com o Espírito Santo. Mas, segundo levantamentos do movimento pela duplicação da via, encabeçadas por representantes das 12 cidades ao longo do trecho de João Monlevade a BH, o número de cruzes representa também as pessoas que morreram nos hospitais ou em casa, em 2008, em decorrência daqueles acidentes. “A PRF encerra sua conta na estrada. Mas, muitos morreram depois. Faleceram em BH ou no hospital de João Monlevade, que é para onde grande parte dos feridos segue”, disse a presidente da Câmara de Vereadores daquela cidade do Vale do Aço, Dorinha Machado (PMDB).

Cada cruz representa o sofrimento de uma família. Até hoje o engenheiro José Mauro Estrela, 62 anos, lembra do acidente que lhe deixou sequelas e levou um grande amigo, o engenheiro Henrique Dias, em 1999. A dupla vinha da capital para João Monlevade e trafegava a 40 quilômetros por hora porque chovia muito. “Um caminhão apareceu no meio da curva, na altura de Caeté, e bateu de frente. Acabou com o carro. O Henrique foi esmagado entre a traseira e o teto e eu fui parar no banco de trás. Até hoje lembro daquelas cenas horríveis”.

A família da laboratorista Margarida Magna Anacleto, 46 anos, nunca mais foi a mesma depois que o primo José Antônio Anacleto, 48 anos, e a filha dele, Sabrina Anacleto, 12, morreram entre as ferragens do carro, em Nova União. “Eles foram desviar de um carro que estragou no meio da curva e acertaram uma carreta de frente. Dois filhos do João, de 14 e 15 anos, ficaram muito machucados”, recorda.

Quem ficou parado na rodovia apoiou a iniciativa e não se importou de esperar por uma hora. “Acho válido esse esforço. É uma coisa que vai trazer segurança para todos nós. A estrada tem muito tráfego pesado e é cheia de curvas”, disse o estudante Lucas Costa, 20 anos, que veio de Brasília.

De acordo com o prefeito de João Monlevade, Gustavo Prandini (PV), o movimento pela duplicação já foi recebido duas vezes em Brasília pelo Dnit, ANTT e pelo vice-presidente José Alencar (DEM). “Falta mais vontade política”.

Segundo informações do Dnit, o projeto executivo da duplicação da BR-381 será entregue ainda neste mês. O passo seguinte é licitar a obra, o que ainda não tem previsão. Ainda segundo o Dnit, as cinco pontes inacabadas entre BH e Monlevade deverão ter as obras reiniciadas também neste mês. Elas estão paradas desde 2007 e são causas de frequentes acidentes. Que o diga o caminhoneiro Wildenilson Agostinho de Matos, 33 anos, que tombou uma carreta bitrem carregada de madeira logo depois de passar pela estreita ponte em obras sobre o Rio Vermelho, a 39 quilômetros de Belo Horizonte. “A carretinha do meio pulou no desnível da curva e virou a outra. Tomei um susto grande e achei que ela ia me puxar para dentro do rio. Aqui é perigoso demais”, desabafou o motorista, que seguia de Mato Grosso para o Espírito Santo e teve escoriações na perna.

O Dnit promete reativar no início de agosto 28 radares das rodovias federais de Minas e do Anel Rosdoviário. Os equipamentos estão desativados desde setembro de 2007. A BR-381 terá 13 equipamentos religados no trecho batizado de Rodovia da Morte. No Anel Rodoviário, em Belo Horizonte, serão dez radares. Os demais serão religados na BR-356, próximo ao Ponteio e BH Shopping, e dois na BR-040, na altura do viaduto das Almas. Segundo o Dnit, para colocar os radares em funcionamento, foi decretado regime de emergência, o que dispensa a licitação pública. (Com Celso Martins)

Fonte: http://www.hojeemdia.com.br/v2/index.php?sessao=10&ver=1&noticia=9751

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