O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) informou na segunda-feira que ainda em julho vai assinar o contrato para a elaboração do projeto executivo da duplicação dos 310 quilômetros da BR-381 entre Belo Horizonte e Governador Valadares, no Vale do Aço. A previsão é de que o estudo fique pronto nos próximos meses e que a obra, orçada em R$ 2 bilhões, seja concluída entre 2013 e 2015. Até lá, centenas de famílias vão chorar a perda de entes queridos na Rodovia da Morte, como ficou conhecido o perigoso trecho de 108 quilômetros entre Belo Horizonte e João Monlevade, marcado por centenas de curvas, má sinalização, defeito na pista e falta de acostamento. Na tarde de segunda-feira, moradores de várias cidades cortadas pela estrada voltaram a fechar o trânsito da via nos dois sentidos.
Houve uma manifestação no trevo de Caeté e outra em João Monlevade. Os protestos, que ocorreram das 15h às 16h30, causaram congestionamentos nos dois pontos. Foi a quarta vez que os manifestantes interromperam o tráfego na via este ano. A primeira, em 13 de março, ocorreu dois dias depois do trágico acidente que matou oito moradores de Caeté: sete universitários e o motorista da van que levava o grupo. Durante o primeiro protesto, amigos e parentes das vítimas decidiram que fechariam o trânsito da 381 todo dia 13, até que a União inicie a duplicação da estrada.
Na segunda-feira, espalharam dezenas de cruzes na margem da via. Uma delas homenageava o universitário Alberty Syrio, de 25 anos, uma das vítimas no acidente com a van. A mãe dele, Eliane Silva, de 59, esteve no protesto e se emocionou. “Há duas fases em minha vida. Uma antes e outra depois do acidente”. A van em que o filho dela estava foi atingida em cheio por um caminhão de São Paulo, que perdeu o freio e não conseguiu fazer a curva do km 30. Outro filho de Eliane, Adair Syrio Júnior, de 28, estava na van e por pouco não morreu.
Mas o acidente lhe deixou marcas e, receoso em ser a próxima vítima da rodovia, trancou o curso de geografia e análise ambiental numa faculdade de BH. “Estava no quarto período. Meu irmão, no quinto”, diz, recordando que, em maio, cerca de 50 moradores de Caeté e região alugaram um ônibus e foram a Brasília participar de uma reunião com o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, e deputados federais de Minas.
“O ministro prometeu que, enquanto a duplicação não tivesse início, iria instalar radares, balanças etc. Disse que o prazo era de mais ou menos 30 dias. Já se passaram quase 60 e nada”, reclamou Fernando Caetano Fonseca, de 35, coordenador do movimento BR-381: duplicação já. Procurado pela reportagem, o Ministério dos Transportes não soube informar quando a promessa do ministro sairá do papel. Já o Dnit informou que pretende assinar o projeto executivo que dará vida à duplicação da rodovia ainda em julho.
A demora do governo federal em pôr fim à mortalidade no trecho causou indignação em muitos usuários.
“Temos visto muita promessa e pouca solução. Sábado passado, assisti o motorista de um caminhão sendo retirado sem vida da boleia. Já perdi amigos na via. Falta vontade política para iniciar a obra de duplicação”, criticou a servidora pública Roberta Resende, de 28, que mora em Caeté. Ela e amigos colocaram várias cruzes na margem da rodovia.
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