sábado, 25 de julho de 2009

2009.07.25 - Acidente na BR-381 vira luta por alimento - Portal Uai

O acidente de sexta-feira revelou outro lado da BR-381, o da miséria humana. Mais de 500 pessoas que vivem em áreas invadidas, às margens da estrada, se engalfinharam para saquear a carga de arroz. Um policial rodoviário tentou impedi-las, disparando tiros não letais, e uma mulher foi atingida pelos estilhaços. A empregada doméstica desempregada Tânia Jussara do Brasil, de 42, não parou de arrastar sacos do produto, mesmo ferida. Ela recusou atendimento médico, só para não parar de pegar mercadoria. “Moro numa área invadida, sou favelada, desempregada e não vou parar de pegar arroz”, disse Tânia, que tem acompanhamento psiquiátrico, é casada com um lavrador, também desempregado, e tem sete filhos.

Mais pessoas continuavam chegando para o saque, de bicicleta, a pé, empurrando carrinho de mão. O empurra-empurra, as cotoveladas, gritarias e até agressões impressionaram quem estava preso no engarrafamento. Alguns registraram tudo em seus celulares, máquinas fotográficas e câmeras.

Em pouco tempo, a montanha de arroz foi sumindo, diante dos olhos dos policiais, que não tiveram como evitar o saque. Os grãos que vazaram dos sacos foram catados aos punhados. Quando tudo parecia calmo, um homem levantou o que sobrou do guarda-roupa da mudança, no meio do mato, e descobriu mais sacos de arroz, provocando novo tumulto.

O corpo de Damião ficou esquecido atrás dos destroços do caminhão. Sem a polícia por perto, alguns moradores levantavam a lona preta para ver a vítima, indiferentes à tragédia. Um homem, mais piedoso, cruzou dois galhos sobre o corpo, em forma de cruz. A perícia somente chegou às 11h30.

Revolta
Diante de tanta revolta, quem lucra com os engarrafamentos é a desempregada Michele Augusta de Carvalho, de 27, que mora às margens da estrada. “Já ando com minha geladeira abastecida de água, suco e refrigerante. Quando há acidente, ou quando é época de feriado, que param o trânsito, corro para ganhar um trocado”, disse a vendedora ambulante.

De acordo com o policial rodoviário Élvio Quites, já virou rotina acidentes graves pararem o trânsito nesse trecho da BR-381, até por mais cinco horas, principalmente quando há mortos e é preciso aguardar a perícia. A média é de cinco acidentes graves por semana entre Belo Horizonte e o Vale do Aço. “É um trecho de uma pista só e esse transtorno para os motoristas é inevitável. Se fosse uma rodovia duplicada, a outra pista poderia ser usada e o trânsito fluiria nas duas faixas”, acrescentou. Pelo estrago do caminhão, segundo ele, os sobreviventes tiveram muita sorte.

Segundo Élvio, não é possível afirmar se a carga estava irregular. “Mesmo com a mudança em cima da carga, se tiver dentro da capacidade do caminhão, e na altura e largura permitidos, não há problemas. No entanto, havia excesso de passageiros na cabine. O motorista poderia levar apenas dois passageiros, e não quatro”, disse Élvio.

Na sexta-feira à tarde, o motorista Alexandro permanecia em observação no Hospital Risoleta Neves, em estado grave. As outras vítimas foram para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS), com ferimentos leves. Somente às 13h a BR-381 foi totalmente liberada, mas o trânsito continuou lento por mais de uma hora.

Fonte: http://www.uai.com.br/UAI/html/sessao_2/2009/07/25/em_noticia_interna,id_sessao=2&id_noticia=120149/em_noticia_interna.shtml

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