sexta-feira, 11 de março de 2011

2011.03.10 - 45 mortos nas estradas assassinas de Minas - Estado de Minas

A maioria perdeu a vida, no feriadão, nas ultrapassadas BRs que cruzam o estado. São vias de pistas estreitas e sem divisórias, que, segundo especialista, facilitam colisões frontais

Ernesto Braga e Paula Sarapu

Beto Magalhães/EM/D.A Press20110310215128446Rodovia da Morte, entre BH e o Vale do Aço, é uma das recordistas em tragédias, pelo seu traçado sinuoso, faixa única de tráfego nos dois sentidos e sinalização precária em muitos trechos

A imprudência dos motoristas, entusiasmados com seus carros potentes, e a falta de estrutura das rodovias federais que cortam Minas, com traçados projetados há mais de 40 anos, quando a indústria automobilística dava seus primeiros passos no país, são fatores de uma equação com resultado trágico. Assim especialistas de transporte e trânsito definem as causas da carnificina que se repete nas BRs mineiras em todos os feriados prolongados. Durante a Operação Carnaval 2011 (de 4 a 8 de março), as polícias Rodoviária Federal (PRF) e Militar Rodoviária (PMRv) registraram 1.453 acidentes no estado, com 938 feridos e 45 mortos. Dos 36 óbitos nas estradas federais, pelo menos 24 foram em batidas frontais ou laterais em vias sem divisórias de pistas, obstáculos que evitam a colisão entre veículos trafegando em sentidos contrários e que fazem ultrapassagens malsucedidas.

Falhas que poderiam ser corrigidas caso houvesse maior aplicação do valor arrecadado com a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide-Combustível) em programas de infraestrutura de transportes, como determina a Lei 10.336/2001, que criou o tributo. Em 2010, a arrecadação foi de R$ 7,7 bilhões, segundo a Receita Federal. “Deviam aplicar 100% da Cide nas rodovias, mas nem 20% são usados para torná-las mais seguras. Se o investimento fosse da forma que a lei determina, nesses 10 anos de existência da contribuição já teriam sido feitas as obras de duplicação da BR-381, entre Belo Horizonte e Governador Valadares, a revitalização do Anel Rodoviário da capital e a construção do Anel de Contorno Norte (Rodoanel, que cortará a Região Metropolitana de BH)”, afirmou o engenheiro civil Paulo Tarso Resende, doutor em planejamento de transportes e coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral.

A PRF registrou 880 acidentes em Minas durante a Operação Carnaval, com 500 feridos e 29 mortos. O número de óbitos nas rodovias federais sobe para 36 se forem incluídos mais sete ocorridos nas BRs delegadas ao estado: três na 265, dois na 454 e um na 383. Além disso, o Corpo de Bombeiros informou que cinco pessoas morreram no acidente de terça-feira na BR-153, em Prata, no Triângulo, mas a PRF confirma apenas quatro mortes. A estatística torna o carnaval o feriado mais sangrento da história, superando o da Proclamação da República, em novembro do ano passado, quando 35 pessoas perderam a vida. “As mortes nessas rodovias não entram no nosso balanço, pois, embora sejam federais, elas são delegadas à Polícia Militar. Quanto à quinta morte na BR-135, pode ter ocorrido no momento em que a vítima era socorrida pelos bombeiros, mas não foi no local do acidente”, disse o assessor de imprensa da PRF, inspetor Aristides Júnior.

A maioria das mortes foi na BR-381: oito, sendo sete no trecho conhecido como Rodovia da Morte, entre BH e Ipatinga, no Vale do Aço, e uma na Fernão Dias. Também houve sete óbitos na BR-365. Das 24 mortes em colisões frontais e laterais entre veículos, sete foram na BR-365, seis na BR-381 (sentido Vitória), quatro na BR-153, três na BR-040, duas na BR-262, uma na BR-459 e uma na BR-116. “São acidentes característicos de rodovias de pistas simples, sem obstáculos dividindo os dois sentidos, que podem ser barreiras de concreto ou canteiros centrais. Os motoristas têm uma falsa impressão de que, com seus veículos potentes, conseguem fazer ultrapassagens em locais inadequados. A soma desse comportamento absolutamente incorreto com a não existência de divisórias nas pistas, por falta de investimentos nos últimos 40 anos, em traçados ultrapassados, resulta em tragédias”, afirmou Paulo Tarso.

Nos mais de 4 mil quilômetros de rodovias fiscalizados pela PMRv houve 537 acidentes, com 438 feridos e 16 mortos. O assessor de imprensa do Comando Geral da Polícia Militar, capitão Gedir Rocha, não soube informar quais os trechos das estradas onde ocorreram os óbitos, impossibilitando a confirmação de que as BRs onde houve as sete mortes não inseridas no balanço da PRF são delegadas à corporação estadual.

LEI SECA

Durante o carnaval, 62.891 veículos foram fiscalizados em todo o estado. Nas barreiras montadas pelas autoridades para flagrar motoristas alcoolizados ao volante, muitos foram submetidos ao teste do bafômetro e mesmo os que se recusaram a fazer o exame da Lei Seca foram avaliados clinicamente. Segundo a Secretaria de Estado de Defesa Social, 160 condutores foram detidos com sinais de embriaguez, 94 deles em operações da Polícia Militar. A corporação fez 2.688 operações com o uso de bafômetros e radares. Nas rodovias federais, 146 motoristas foram flagrados pela PRF dirigindo embriagados

Euler Júnior/EM/D.A Press20110310215133552As três mortes no Opala, na 381, em Ravena, provavelmente não ocorreriam em estrada de traçado moderno

Fonte: Estado de Minas

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