
Mais de 8.000 acidentes ocorreram no ano passado, uma média de 23 por dia
Alexandre Nascimento
Além de ter uma pista sem divisão por canteiro central e um traçado com média de uma curva a cada 500 m, a BR-381 ainda conta com mais um agravante que favorece a sucessão de acidentes: a imprudência dos motoristas. No ano passado, foram 8.254 ocorrências na rodovia, uma impressionante média de 23 por dia, que causaram a morte de 277 pessoas. Quem sempre passa pelas sinuosas curvas da via diz que carros, caminhões e ônibus frequentemente abusam da sorte. Os motoristas excedem a velocidade antes das curvas e fazem ultrapassagens em faixas contínuas. Uma das testemunhas é o borracheiro João Batista. Ele trabalha em um posto de gasolina no KM 423 da BR-381, mais conhecido como KM 30, perto do local onde ocorreu o acidente que matou cinco estudantes universitários e o motorista de uma van, no último dia 11, na divisa entre Sabará e Caeté. "Já sofri quatro acidentes na BR-381 e perdi as contas de quantas pessoas presas às ferragens ajudei a salvar. Todo dia tem acidente aqui.
A gente vê caminhão tombar direto". Enquanto os acidentes e mortes continuam ocorrendo no trecho - somente em duas batidas nos últimos 16 dias, nove pessoas morreram e 47 ficaram feridas -, o Ministério dos Transportes não consegue resolver o incômodo impasse criado no ano passado por dois órgãos federais. De um lado, o Dnit recebeu a orientação para contratar o projeto executivo da obra de duplicação, orçada em R$ 1,58 bilhão. Do outro, a ANTT foi direcionada a elaborar o edital para que o trecho seja concedido à iniciativa privada. Em nota, o Ministério dos Transportes negou que as duas solicitações tenham causado um impasse. Nas entrelinhas, o ministério deseja que o órgão que conseguir iniciar as obras mais rápido assuma o trabalho. Na opinião de motoristas ouvidos pela reportagem, as obras de duplicação e melhoria do traçado seriam as formas mais eficazes de reduzir o número de acidentes na 381.
Leonardo Fagundes, 30, que dirige uma ambulância da Prefeitura de Governador Valadares e precisa transportar passageiros para Belo Horizonte pelo menos três vezes por mês, acredita que o maior perigo da rodovia é a grande quantidade de curvas. Já o mantenedor mecânico Giovani Gomes Silva, 28, tem calafrios quando precisa trafegar pelo local. "Acho que deveriam duplicar (a BR-381). Às vezes, o caminhão que está na pista contrária passa muito perto do meu carro. Eu até gelo". Enquanto não for apresentada uma solução para o início das obras, motoristas e moradores de Caeté prometem fazer protesto na rodovia todo dia 13. Este mês, a manifestação interrompeu o tráfego de veículos na pista por cerca de duas horas, causando um congestionamento de 30 km no local.
Privatização. Apesar de as obras e a manutenção da pista serem apontadas pelos motoristas como as melhores formas de evitar tragédias, os trechos controlados pela iniciativa privada também apresentam alto índice de acidentes. Na própria BR-381, no segmento entre Belo Horizonte e São Paulo, administrado pela Autopista Fernão Dias, foram registrados 3.094 acidentes com cem mortes, no período entre 15 de agosto e 31 de dezembro do ano passado. O percurso foi responsável por 37% do total de acidentes registrados em toda a extensão da 381 em 2008.
Enquete
58,26% votaram pela duplicação do trecho norte da BR-381
12,98% acham que a conscientização é a melhor solução
12,77% acreditam que radares são a melhor solução para o trecho
Caminho da ANTT
1° passo - convocação de audiência pública no "Diário Oficial da União" para discutir a privatização do trecho norte da BR-381 (29/09)
2° passo - realização de audiências públicas (outubro e novembro de 2008)
3° passo - aguarda autorização do Tribunal de Contas da União (TCU) para lançar o edital para a concessão (estágio atual)
4° passo - realiza o leilão da rodovia (previsão para abril ou maio)
5° passo - empresa vencedora assina contrato e terá seis anos para executar todas as obras
Via que alimenta, mas também destrói famílias
A mesma BR-381 em que José Rodrigues Pereira, 52, e seus três irmãos conseguiram trabalhar por décadas foi a responsável por uma tragédia que abalou toda a família. José era o motorista da van que fazia transporte universitário e foi atingida por um caminhão no último dia 11, em Sabará. Ele morreu na hora. A filha dele, Lígia Aparecida Costa Pereira, 29, também estava na van e morreu dias depois. Um dos que mais sofrem ao se lembrar do acidente é Renato José Costa, 24, filho de José. Ele dirigia uma outra van, que vinha atrás. "Renato está parado, traumatizado. Pensou em não fazer mais esse tipo de serviço, mas repensou e sabe que é o que gosta de fazer, assim como o pai. Ele deve voltar em breve", disse um dos irmãos de José, Antônio Rodrigues, 54. (AN)
Currículo
Vidas perdidas em um histórico de acidentes
Outros acidentes marcaram a BR–381 nos últimos anos. Em 2003, uma batida entre um carro e um ônibus escolar da Prefeitura de Caeté, próximo ao trevo de Ravena, matou a motorista do automóvel e deixou o outro veículo pendurado em um abismo, com cerca de 30 crianças. Por muito pouco, o ônibus não desceu ladeira abaixo. Os estudantes tiveram que sair com ajuda dos bombeiros para evitar qualquer movimento súbito. No KM 408 da rodovia fica a ponte São Geraldo, nome dado em 1996, quando um ônibus da empresa São Geraldo tombou no local com passageiros que voltavam do Carnaval na Bahia. Trinta e uma pessoas morreram. Os KMs 387, no trevo de Itabira, e 381, no acesso a Barão de Cocais, são outros pontos com alto índice de acidentes. Uma enquete realizada pelo Portal O Tempo Online questionou sobre as melhores soluções para a BR–381. Confira o resultado acima. (AN)
Publicado em: 29/03/2009
Fonte: http://www.otempo.com.br/otempo/noticias/?IdEdicao=1247&IdCanal=6&IdSubCanal=&IdNoticia=106990&IdTipoNoticia=1
Nenhum comentário:
Postar um comentário