terça-feira, 31 de março de 2009

2009.03.31 - Medo na volta da escola - Estado de Minas

Marcos Michelin/EM/D.A Press
Rotas do Medo

Bianca Melo
TERÇA, 31/03/2009

Pelos traçados antigos e irregulares de três das rodovias federais mais movimentadas e perigosas que cortam Minas Gerais, trafegam caminhões, carros de passeio em viagem e também vans que transportam à noite, entre Belo Horizonte e várias cidades, centenas de estudantes universitários ávidos por um bom futuro depois que o vai-e-vem diário os premiar com um diploma de curso superior. O triste acidente que deu fim à vida de seis pessoas de um desses veículos, que seguia da capital para Caeté, na região metropolitana, na noite do último dia 11, levou o Estado de Minas a acompanhar a via-sacra de jovens que são testemunhas diárias do movimento e da fragilidade das BRs 040, 381 e 262. Na rota de três cidades – Caeté, Itabirito e Itaúna –, levantamento informal chegou a 41 vans e a 10 ônibus,que transportam pelo menos 765 alunos, de segunda a sexta-feira. Todo veículo de transporte regular entre uma cidade e outra deve se inscrever no Departamento de Estradas de Rodagem (DER), mas o pequeno número de vans cadastradas (410 em todo o estado) deixa dúvida sobre o cumprimento geral da obrigatoriedade. Com ou sem autorização do órgão estadual, esses veículos correm perigo nas estradas mal sinalizadas, com buracos e remendos na pista, mato alto encobrindo placas, trechos muito sinuosos, falta de radares e necessidade de duplicação urgente por causa grande movimento.

Memória de dias trágicos

Qualquer um dos 12 passageiros da van dirigida por Robson Pedrosa, que leva jovens de Caeté para estudar em Belo Horizonte, sabe dizer dos perigos da BR-381: pista estreita, com muitas curvas, e motoristas que nem sempre respeitam os limites. Na noite de uma segunda-feira chuvosa, o Estado de Minas seguiu com eles na volta para casa. Os rapazes e moças já são companheiros antigos e sabem do motivo pelo qual a estrada é chamada de “rodovia da morte”. A rota de 49 quilômetros é a mesma da trágica batida da van, no início do mês, que matou seis pessoas, entes as quais cinco universitários. O motorista carrega a turma de alunos diariamente e calcula que 15 vans azem o mesmo trajeto no turno da noite.

No dia da nossa viagem, a van saiu às 23h04 da última parada na capital, a Faculdade Universo, no Bairro Renascença. Para os alunos, impossível esquecer o dia da tragédia na qual morreram amigos e conhecidos. Na quarta-feira da ocorrência, 16 de março, eles passaram pelo local do acidente minutos antes. Muitos amigos ligaram para a casa do estudante de engenharia de produção Fernando Marcos dos Santos, de 30 anos, para saber se estava tudo bem. Felizmente, estava. Aluno do 7º período de uma faculdade particular de BH, ele conta os dias para chegar ao fim do 8º período e não ter mais que fazer a viagem diária. “Já estou trabalhando em Caeté e quero ficar por lá mesmo, evitar esse trajeto e viver mais tranquilo.” Os incontáveis acidentes na pista o fizeram chegar atrasado à aula várias vezes e, na volta, o levaram a dormir de madrugada também em muitas oportunidades.

Como 13ª passageira da van, O EM acompanhou uma situação-teste para qualquer motorista e, segundo Pedrosa, muito comum no percurso. Depois que saiu de BH, ele dirigiu por quase 20 minutos a 60km/h, atrás de um caminhão carregado. No local era permitido 80 km/h. “Muitos não têm paciência e ultrapassam mesmo sendo proibido.” A ultrapassagem ali é tão perigosa que faixas no chão permitindo a passagem são pouquíssimas. Poucos também são os trechos com duas pistas. Ao contrário, na maior parte do percurso, é uma pista de cada lado com acostamento. Com olho atento ao movimento a seu lado, o motorista da van alerta para uma manobra que considera uma das mais perigosa: um caminhoneiro em alta velocidade completa a curva “comendo faixa”, uma ameaça a quem vem em sentido contrário.

Da janela esquerda do penúltimo banco, o estudante de engenharia Wallace Pessoa, de 26 anos, acompanha a cena com atenção e concorda com o motorista. Com clareza, ele rememora um episódio ocorrido no ano passado que quase tirou a sua vida e a dos colegas de viagem . “Um carro em sentido contrário veio acelerado, invadiu a faixa errada e rodou na nossa frente. Nosso motorista desviou rapidamente e foi para a contramão. Foi por muito pouco.” O condutor imprudente teria perdido o controle depois de uma ultrapassagem indevida.

Outro estudante e passageiro Waldércio Rosa, de 37, diz que, em 15 anos, os problemas são os mesmos. “Só tiraram os buracos, mas o pessoal corre mais.” Nas palavras do motorista, o perigo começa mesmo é depois da barreira da Polícia Rodoviária Federal, na altura de Sabará. Pouco à frente, há três quilômetros de descida e, ao final, uma curva em 90 graus. Placa indicando o aclive não há. Só quase no fim da descida há um alerta de “curva acentuada”.
No sentido contrário, o perigo maior está no km 435, na chamada curva do Posto 30, justamente onde houve grave acidente com a outra van. “Duplicação aqui seria bom, mas não acredito. Poderiam pelo menos sinalizar melhor as curvas e fazer um rodoanel em BH para desviar o trânsito para o outro lado da 381.” Às 23h45, desceu a primeira passageira, a estudante de direito Cristiane Ferreira, de 25, no Centro de Caeté. Ela sai de lá às 17h30. Estuda as leis, toma a van para voltar e dorme depois de 0h, de segunda a sexta-feira. “Sei que é arriscado, mas não há faculdade em Caeté e preciso estudar.”

A Assembléia discute hoje, em audiência pública, dois projetos de duplicação da BR-381, entre BH e Governador Valadares.

Vans escolares cadastradas no DER-MG 410*

* Veículos que transportam estudantes de uma cidade a outra precisam do cadastro e estima-se que o número sem registro seja alto.

Fonte: http://www.uai.com.br/EM/html/sessao_18/2009/03/31/interna_noticia,id_sessao=18&id_noticia=95166/interna_noticia.shtmlz

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