Ernesto Braga
Repórter
Há dois meses, Osvaldo de Pádua Santos, 50 anos, e a mulher dele, Antônia Erlene Rocha Santos, 49, recebiam a notícia mais trágica de suas vidas. O filho do casal, Osvaldo Júnior, 20 anos, que cursava Ciências da Computação em Belo Horizonte era um dos sete mortos na batida entre a van que transportava universitários de Caeté para a capital. O acidente foi na madrugada do dia 13 de março, na BR-381, próximo ao trevo de Caeté, quando os estudantes voltavam para casa. Desde então, o casal está empenhado nas mobilizações por intervenções na rodovia, para reduzir o número de acidentes e mortes. “Não queremos que outros pais tenham que buscar os filhos no IML”, disse Osvaldo. “Tenho outra filha que dependerá dessa estrada para estudar, e isso dá medo”, acrescentou Antônia.
Na tarde de ontem, o casal estava entre os 150 manifestantes que interditaram os dois sentidos da BR-381, no trevo de Caeté, durante 45 minutos, a terceira manifestação desde o acidente com os universitários. Faixas e um caixão foram colocados nas pistas. Protestos semelhantes também foram feitos ontem em São Gonçalo do Rio Abaixo e Bela Vista de Minas, na Região Central, Ipatinga, Vale do Aço, e Governador Valadares, no Vale do Rio Doce. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, no trecho de Caeté, o protesto provocou uma retenção de dois quilômetros no sentido Vitória e um quilômetro no sentido Belo Horizonte, mas não houve registro de acidentes.
O objetivo do protesto é acelerar a duplicação da BR-381 nos 311 quilômetros entre Belo Horizonte e Governador Valadares, trecho com mais de 500 curvas, sendo 200 entre a capital e João Monlevade - cerca de cem quilômetros. De acordo com o presidente da ONG SOS Estradas Federais de Minas, José Aparecido Ribeiro, há dois projetos de intervenção na rodovia. “O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) gastou R$ 10 milhões na execução do projeto, que existe há um ano e prevê a duplicação com reconstrução dos trechos mais críticos da BR-381, retirando algumas curvas. Posteriormente, haveria licitação para a concessão da rodovia e cobrança de pedágio”, disse.
O outro projeto, segundo Ribeiro, foi apresentado recentemente pela Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT), que assim como o Dnit é subordinado ao Ministério dos Transportes. “Esse projeto prevê apenas a duplicação, com cobrança de pedágio antes das obras. Nós apoiamos o projeto do Dnit, pois a BR-381 tem um modelo antigo, construído há 50 anos e que não acompanhou a tecnologia automotiva.”
De acordo com o deputado Wander Borges (PSB), membro da Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização da Assembleia Legislativa, os dois projetos estão sendo debatidos no âmbito federal. “Há R$ 2 bilhões assegurados para as obras. Enquanto esses órgãos ficam discutindo, vidas estão sendo ceifadas na BR-381”, criticou o presidente da SOS Estradas. No ano passado, foram registrados 8.254 acidentes na rodovia, com 277 mortes. “Enquanto não é feita a duplicação, precisamos que o Dnit desenvolva um plano emergencial, com instalação de lombadas eletrônicas e melhorias na sinalização”, acrescentou Ribeiro.
A assessoria do Dnit informou que prossegue o processo licitatório para contratação do projeto executivo para duplicação do trecho entre BH e Valadares. Neste processo já foram homologados cinco vencedores para dez lotes, restando apenas três a serem definidos. O processo deve ser concluído em janeiro do próximo ano e as obras iniciadas até dezembro.
A ANTT não se pronunciou sobre o assunto. Já a assessoria do Ministério dos Transportes informou que o Governo federal ainda está “avaliando a situação”. O Executivo teria interesse em bancar parte das obras, por meio de parceria público-privada (PPP).
Ato parou outros pontos da rodovia
Em Governador Valadares, a manifestação pela duplicação da BR-381 durou 20 minutos, reuniu cerca de 150 pessoas e provocou engarrafamento de mais de cinco quilômetros nos dois sentidos da rodovia.
“Não podemos aceitar que a duplicação seja feita apenas até Ipatinga ou outra cidade do Vale do Aço, como se ventila. E nossa posição é contundente. Vamos tomar todas as providências necessárias e que forem possíveis”, disse o vereador Maurício Morais (PSDB).
O vereador Lierte Júnior (PMN) se diz preocupado com os rumos que a obra poderá tomar. “Nosso recado está dado. Não vamos nos calar e nem cruzar os braços. A duplicação precisa chegar até Valadares”, disse. Outro participante do protesto foi o presidente da Associação dos Caminhoneiros de Governador Valadares (Aprovec), Sancho Dias. A entidade tem cerca de 500 associados e todos apoiam o movimento. “Se a obra for entregue à iniciativa privada, vão cobrar pedágio antes mesmo de ela ser concluída”, afirmou.
Em Ipatinga, a paralisação contou com a presença de aproximadamente 250 pessoas. O trânsito ficou parado durante 25 minutos, enquanto os manifestantes entregavam panfletos aos motoristas.
(Com Jáder Rezende e sucursais)
Fonte: http://www.hojeemdia.com.br/
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