segunda-feira, 30 de agosto de 2010

2010.08.30 - Unidos pela dor – JVA Online

Vítimas de trânsito são lembradas em ato público

Vívian Borges
REPÓRTER

Lairto MartinsE7XDSapresentacao_teatral_vitimas_de_transito_-_Foto_Lairto_Martins_19UMA APRESENTAÇÃO teatral destacou o sentimento de vazio vivenciado pelos familiares das vítimas de acidentes de trânsito

IPATINGA – As pessoas que passaram pelo trecho da rodovia Fernão Dias (BR-381), em Ipatinga, na altura da passarela do Bairro Iguaçu, na manhã deste domingo (29), puderam perceber a difícil tarefa cumprida diariamente por familiares e amigos de vítimas de acidentes de trânsito para que a memória de seus entes não caia no esquecimento. As inúmeras tragédias ocorridas por acidentes automobilísticos na região foram lembradas através de exposição de faixas, carro de som, apresentação teatral e dança. O encontro foi promovido pelo Movet - Movimento Nacional de Educação e Humanização do Trânsito e em Defesa da Vida – e contou com o apoio do vereador César Custódio (PPS), além de agentes e viaturas da Polícia Rodoviária Federal.

Participaram dos trabalhos de apresentação musical e teatral cerca de 30 jovens das comunidades católicas ‘Santuário São Judas Tadeu’, ‘Unidos em Cristo’, ‘Cristo Rei’ e ‘Sagrada Família’, além de funcionários do Instituto Humanizar.

“Tanto a peça como a música foram feitas exclusivamente para o evento. Na peça, abordamos o vazio de uma família cheia de planos após perder uma filha em um acidente. O foco é mostrar que a violência não resolve nada, mas que as indisciplinas dos cidadãos devem ser punidas para não incentivar outros comportamentos errados”, destacou Laert Junior, coordenador da peça.

Para ajudar a manter viva a memória das vítimas e tentar acabar com a impunidade nos crimes de trânsito, os participantes contaram suas experiências sobre o processo doloroso de seguir em frente. Apesar de viverem etapas diferentes, a maioria das pessoas que perdeu alguém querido de forma brutal e precoce afirma recorrer à fé para transformar o sentimento de rancor e ódio em forças para lutar contra a impunidade.

“Há alguns dias encontrei bebendo, sorrindo e cantando num bar, o rapaz que tirou a vida de meu pai, da mesma forma como aconteceu no dia da tragédia. Este sentimento de impunidade é horrível e confesso que, se não tivesse dois filhos que ainda precisam de mim, já teria feito uma loucura”, confessou o motorista Renato Rodrigues, de 27 anos, que perdeu o pai no final do mês de junho.

Conforme o motorista, o pai Jair Diolindo, de 60 anos, era vendedor ambulante e foi atingido pelo Volkswagen Fox placas HEQ-8594, dirigido pelo estudante L.A.G., 20, quando conduzia uma bicicleta na Avenida Felipe dos Santos, no Bairro Cidade Nobre. Ainda de acordo com o rapaz, a Polícia Militar chegou a afirmar que Diolindo não teria sido socorrido pelo motorista embriagado e morreu antes de receber a assistência de uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). “Meu pai foi arrastado por alguns metros como se fosse um saco de lixo porque nem com um animal as pessoas costumam fazer isso. O rapaz que estava dirigindo o carro pagou fiança de R$ 1 mil e foi liberado. Quem ficou ‘preso’ foi só o meu pai mesmo”, disse Renato, revoltado.

Ainda conforme o motorista, a única solução seria mudar o código de trânsito para que as pessoas que se envolvessem nestes delitos respondessem por crime doloso no caso de mortes. “Talvez fosse mesmo a hora de meu pai partir. Mas o que traz revolta à minha família é que o rapaz, que estava bêbado, não prestou socorro e continua bebendo e dirigindo sem pagar por isso. Outro dia cheguei a ir até à casa de minha mãe para contar uma boa notícia para meu pai. Só quando cheguei no portão me lembrei que ele já não estava mais lá. Acho que a ficha vai custar a cair”, lamentou.

Além da faixa lembrando o acidente ocorrido com o idoso Jair, a os pais da bibliotecária Raquel Barreto da Silva, 26, vítima de um acidente na BR-458, no dia 31 de agosto de 2008, confeccionaram camisas com a fotografia da filha e discursaram sobre a necessidade do apoio de toda a população. “Não estamos lutando apenas para que a justiça seja feita no caso de nossa filha. Estamos lutando para que outras vidas não sejam ceifadas e que o nosso sofrimento não seja em vão. Queremos que além da mudança no código de trânsito, a matéria Trânsito seja obrigatória na grade curricular do ensino fundamental”, adiantou Maria de Lourdes.

Segundo um levantamento da ONG SOS Rodovias, estima-se que nos últimos oito anos, mais de 4 mil pessoas perderam a vida só na BR-381 e quase 60 mil foram feridas em acidentes desnecessários, que poderiam ter sido evitados se a rodovia já tivesse sido duplicada.

Fonte: JVA Online

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