segunda-feira, 23 de maio de 2011

Por que motoristas passam por Itabira na rota da BR-381?

José SanaÁrea de transferência01Trevo de Itabira, na BR-381

Viajantes profissionais, sem lápis nem papel ou computador, traçam, na prática, uma rota mais econômica e racional para a futura ex-Rodovia da Morte

JOSÉ SANA

A partir desta reportagem, DeFato Online dedica espaço especial para o tema DUPLICAÇÃO DA BR-381. Promete revelar interessantes acontecimentos que estão se sucedendo tanto nos bastidores nos quais tramitam as discussões sobre a provável futura obra, quanto o que se passa entre os usuários, principalmente os mais assíduos.

Para começar, em três dias de trabalho, foram entrevistados 32 personagens, tanto caminhoneiros quanto motoristas particulares, comerciantes localizados às margens de rodovias, famílias afetadas pelas circunstâncias do aumento acelerado de tráfego e outros envolvidos na parafernália de caos em que se transformou o trajeto Belo Horizonte a Governador Valadares. É bom lembrar que tanto o site quanto a revista impressa, DeFato, têm acompanhado o drama de se transitar ao longo da Rodovia da Morte desde a segunda edição da revista, matéria de capa de fevereiro de 1993.

Nesta edição, uma revelação que vem sendo feita na prática pelos usuários e ainda não escrita pelo menos na imprensa. DeFato Online, no entanto, aposta que órgãos competentes, ou profissionais da área já se atentaram para a questão, porque, como diz o motorista de carreta, Antônio, de Coronel Fabriciano, “é impossível que os políticos estejam tão alheios ao problema”.

Por falar em Antônio, de Coronel Fabriciano, a decisão de dar alguns nomes fictícios às pessoas partiu da dificuldade em se obter informações de muitos, pois existem fatos ocorrendo que os implicariam em algum dano material, como profissionais de empresas de transporte viajando sem dormir, alguns tendo que ingerir doses de álcool para se animar (esquisito isso) e por aí vai. Mas o assunto aqui é outro, pelo menos por enquanto.

É bom também esclarecer que já está aberta a licitação para se construir os lotes 7 e 8 do projeto, cujo traçado começa no rodoanel, em Betim, e termina na ponte do rio Una, em São Gonçalo do Rio Abaixo. Mas quem sabe mais que os motoristas do dia a dia? Eles vêm definindo, desde janeiro de 2008, quando a rodovia ficou totalmente pronta, ser esse o caminho para o Vale do Aço e Governador Valadares, além de cidades do Vale do Mucuri em Minas e na Bahia.

Aqui neste texto discute-se que a outra etapa, do rio Una a Nova Era, deixaria de existir, caso os motoristas sejam os primeiros autores de uma alteração básica no traçado da rodovia. E eles parecem mais sábios que os profissionais de gabinete. Se não, vejamos.

UMA PERGUNTA E A MESMA RESPOSTA DE DEZENAS DE PESSOAS

A pergunta básica feita a todos os entrevistados — alguns que autorizaram publicar o nome — era esta: por que o tráfego pesado em direção a Nova Era está a cada dia se desviando para Itabira?

Ridrey Nancy Rocha Santos, 22 anos, frentista, a princípio, disse que ouve os motoristas dizerem que a distância é menor. Para esclarecê-lo e a outros que se interessaram, DeFato Online passou as informações obtidas inicialmente no Departamento de Estradas de Rodagem (DER) e depois confirmadas na prática (a reportagem fez o percurso): são 72 quilômetros de distância do Trevão de Nova Era ao Trevo de Itabira, via Bela Vista de Minas, João Monlevade e São Gonçalo do Rio Abaixo; e do mesmo ponto (Trevão de Nova Era) ao destino mencionado (Trevo de Itabira), o percurso chega a 67 quilômetros.

Mas o motorista Geraldo, de Governador Valadares, que transporta normalmente produtos hortifrutigranjeiros para a Ceasa, em Contagem, afirmou que utiliza as MGs 434 e 129 (Trevo de Itabira ao Trevão de Nova Era, passando pela Estação de Tratamento de Esgotos - ETE ) porque economiza de 25 a 30 reais de combustível no novo percurso adotado recentemente. Informa, o que é sabido de todos, que existem serras e curvas altas e perigosas no caminho de João Monlevade. A partir daí, DeFato Online apurou que o ponto mais alto do trajeto que consta no atual projeto da BR-381, preparado pelo Departamento Nacional de Estrutura de Transportes (Dnit), chega a 945 metros acima do nível do mar.

Com o seu caminhão Mercedes carregado de coco (eram três mil unidades da fruta, segundo ele), Edvaldo Santos de Jesus, de 41 anos, percorre sempre 2.300 quilômetros de Itabaiana, (SE) a São Paulo, capital, viagem que faz em três dias. “Desde quando foi aberta a rodovia de Itabira a Nova Era utilizo esse trecho, ou seja, dobrando à esquerda ali na frente (a entrevista se deu no pátio do Posto Trevo I). Os motivos são claros: mais perto, mesmo sendo apenas 4 a 6 quilômetros, menos serras, menos curvas, mais segurança e o que é importantíssimo para a empresa que traça a nossa rota, economizo aproximadamente 15 litros de óleo diesel só nesse percurso de 65 quilômetros” (são 67, como se apurou).

Amarildo Magalhães Lima, de Santa Bárbara, que reside em Bom Jesus do Amparo, viaja diariamente para Belo Horizonte e pouco pelas MGs 434 e 129, mas se declara testemunho da mudança de trajeto feito pelos que seguem no caminho de Governador Valadares. “Talvez para carro pequeno a economia de combustível não seja tão importante, mas para os caminhões e as empresas de transporte, não tenho dúvida nenhuma que passar por Itabira é muito mais vantajoso”, afirmou a DeFato Online.

Um caminhão de “bujigangas” (denominação de seu dono, Sebastião, que transportava lixo reciclável), estava sendo atendido numa borracharia. Ele vinha de Mantena (MG), tinha passado pela Itabira a Nova Era. Sebastião, um pouco sonolento, disse à reportagem: “Eles (o governo) deveriam duplicar a BR-381 por Itabira; assim reduziriam o nosso tempo de viagem, faríamos economia que daria bons resultados para os nossos bolsos, nos daríamos mais segurança e até mais opção para descanso durante a viagem”, argumentou.

Divino Dias, taxista que faz ponto no Posto Trevo I, município de Bom Jesus do Amparo, deu idêntica opinião sobre a opção por Itabira: “Se hoje a rodovia que passa pela terra itabirana é mais tranquila, imagine se for duplicada!”. E esclareceu mais: “Se aparecer um passageiro que quer ir para o Vale do Aço, sem pensar passo pelos caminhos escolhidos pelos carreteiros, eu não sou bobo não”.

João, que dirigia uma carreta carregada de material siderúrgico e vinha de Ipatinga, já teve uma dúvida: “Vão deixar de passar em João Monlevade? O povo de lá vai gritar e tem o Mauri Torres (deputado) que vai virar uma abelha”. Perto dele, o frentista Carlos o esclareceu: “Vi falar que no projeto que está pronto, a BR-381 não passará em Monlevade mesmo”. “Ah, é? Então aquele povo, ou está dormindo de toca, ou tem alguma carta na manga”, respondeu imediatamente.

CONCLUSÃO, POR ENQUANTO

DeFato Online seguiu o seu caminho e parou em aglomerados, como na Ponte dos Machados e na Chapada, onde a mudança no traçado da BR-381, afetará os moradores. Por enquanto vale dizer que a vida na Ponte dos Machados “já virou um inferno”, disse um casal de moradores e que mudar agora só pode ser para melhor. Mas esse tema será para outro capítulo especial.

Dentro do que ficou delimitado pela reportagem para esta etapa, DeFato Online apurou também o seguinte:

1) — No trecho traçado pelo Dnit, entre o rio Una, em São Gonçalo do Rio Abaixo a Nova Era (lote 6), a altitude chega a 945 metros acima do nível do mar (como foi escrito neste texto) e por Itabira a altitude cai 105 metros, ou seja o ponto mais alto chega a 840 metros.

2) — Ambientalistas, que acompanham o desenrolar das discussões, dizem que para aprovar o projeto rio Una a Nova Era haverá uma demanda de, no mínimo, três anos, pois se trata de uma região inóspita, inexplorada, cheia de nascentes e matas atlânticas;

3) — Entendidos do assunto, pessoas ligadas ao Dnit, informaram a DeFato Online que já há aprovação ambiental para todo o trajeto Trevo de Itabira ao Trevão de Nova Era, em virtude das obras recentes feitas e de outras que se desenvolvem atualmente (melhoria das MGs 129 e 434).

4) — Faltaram, para completar as informações necessárias a este texto, os números que indicam significativo, ou melhor, estarrecedor aumento do tráfego na direção do Vale do Aço, via Itabira, depois da construção da rodovia Itabira Nova Era. O DER ficou de passar os números esta semana, mas o crescimento corresponde a dizer que ninguém mais viaja por João Monlevade se o seu destino tem o caminho ou o destino de Nova Era, vindo de Belo Horizonte ou indo para a capital quando se parte ou se para em Nova Era.

Depois de tantos esclarecimentos e de mais 23 entrevistas já feitas com caminhoneiros, e que serão divulgadas, já dá ou não para pensar. Vamos ver se a voz dos que entendem do assunto, os motoristas, chega às mesas do Dnit e do governo.

Fonte: DeFato Online

3 comentários:

  1. Acho pouco provável que está proposta seja aceita pelo DNIT, todo projeto de duplicação já esta concluído, aguardando apenas a escolha das empresas que realizaram as obras. Além de parte do trecho passar por rodovias estaduais que são de competência do DER.

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  2. DEve passar por lá por medo dos acidentes da principal rodoia do estado a br-381, que passa em JM, em um intervalo com a BR262, então, ainda que a variante STa Barbara seja construida, ainda há necessidade da duplicação do trecho Rio Una/Entrada de Bela Vista.

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  3. Parabéns ao deputado Bernardo Santana e ao atual Vice-Presidente do BDMG o ex-deputado José Santana de Vasconcellos. Todos os usuários da BR381 com domicilio eleitoral no Vale do Rio Doce saberão reconhecer o grande empenho destes dois políticos para que o DNIT adote a melhor solução para o traçado desta BR no trecho entre trevo de Itabira a Nova Era, que é, sem dúvida, via MG129. Mesmo morando em BH, mas como usuário assíduo desta BR, vou acompanhar o processo até o fim. A De Fato acabou de ganhar mais um leitor que já está acessando o site todos os dias para ver o desenvolvimento deste projeto.

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