quarta-feira, 11 de maio de 2011

Drama sem fim na BR-381

Engenheiro constata queda de estaca e risco em viaduto de Nova União, a 42 quilômetros de ponte interditada no Rio das Velhas. Prefeitura cobra posição urgente do Dnit e teme o caos

Thobias Almeida

Cristina Horta/EM/D.A Press20110510231440131Dnit garante que problema na estrutura do km 412 já é conhecido e que soluções estão sendo estudadas

Nova União, na Grande BH, corre o risco de passar pelos mesmos transtornos que há 21 dias afligem Santa Luzia, Caeté e Sabará. O temor parte do prefeito Moacir de Figueiredo, que por conta própria descobriu que a ponte no Rio Vermelho, no km 412 da BR-381, no distrito de Nova Aparecida, a 42 quilômetros de estrutura interditada no Rio das Velhas, está abalada. Ontem, com um engenheiro da Secretaria Municipal de Obras, voltou ao local e mostrou que uma das estacas que suportam o bloco de sustentação de uma das colunas da ponte está separada da estrutura por um vão livre de cerca de 15 centímetros. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) foi comunicado sobre os danos e informou que o problema já é conhecido e está em análise.

“O objetivo é fazer com que o Dnit avalie a ponte e nos dê segurança de que o trânsito continuará fluindo por aqui com segurança”, afirma Figueiredo. Ele não tem dúvidas de que, se a ponte for interditada, como ocorreu com a estrutura no Rio das Velhas, no km 454 da BR-381, em Sabará, Nova União não consiguirá absorver sequer parte do tráfego.

“Isso vai trazer grandes transtornos para a cidade. Já temos esta experiência em casos de acidentes, quando a pista é fechada e os veículos passam por dentro da cidade. Vai virar um caos”, antevê o prefeito. Em caso de uma interdição, há a possibilidade de um desvio de três quilômetros, em estrada de terra, pela comunidade de Papagaio, até o distrito de Nova Aparecida, às margens da BR-381.

Em análise preliminar, o engenheiro Antônio Carlos Maciel avalia que a situação ainda não é crítica, mas alerta para a fadiga causada pela perda de uma estaca. “O projeto previa um determinado peso para cada estaca. Como uma delas está solta, não está sustentando nada, a fadiga nas outras duas pode sobrecarregá-las”, afirma o especialista.

EXCESSO

Na parte central da ponte, duas vigas sustentam o tabuleiro da estrutura, tendo como base a calha do rio. Cada bloco de sustentação de viga é apoiado em três estacas. Em uma das composições, as estacas estão submersas e somente uma sondagem mais detalhada pode apontar possíveis danos. A estaca solta está à mostra, acima do espelho d’água. Nesse mesmo bloco, há outra estaca muito inclinada, mas o engenheiro não soube informar se isso faz parte do projeto de construção ou se ocorreu devido ao excesso de peso. “Hoje, esse recurso (instalar a estaca inclinada) não é mais usado, mas antigamente era comum”, explica Maciel. A ponte do Rio Vermelho foi construída em 1959. Há alguns anos ela foi ampliada, o que aumentou a largura da pista. De acordo com o engenheiro, um prolongamento das estacas avança para dentro do bloco de concreto. “Não dá para entender como ela ficou solta, completamente separada”, afirma.

O peso que a ponte suporta fica claro quando se está embaixo da estrutura. Caminhões carregados cruzam os 74 metros de comprimento da obra e fazem tremer o chão. Quando se está sobre uma das bases de concreto, a vibração é ainda maior. Além do problema apontado pelo prefeito, a parte inferior do tabuleiro antigo apresenta várias ferragens expostas. Além disso, a passagem de pedestres está deteriorada, com grades de proteção quebradas e piso descontínuo.

“Estou fazendo minha parte. Cabe a cada órgão do poder público cumprir o seu papel”, diz, cobrando uma atuação mais ativa do Dnit. Na quinta-feira, em uma audiência sobre a duplicação da BR-381, o prefeito levantou o assunto e apresentou fotos dos danos na ponte.

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“Caminhoneiros exigem avaliação”

Na sexta-feira, o Sindicato da União Brasileira dos Caminhoneiros enviou comunicação ao Dnit cobrando providências sobre a ameaça de queda da ponte em Nova União. A resposta, enviada no mesmo dia, foi de que o assunto já era de conhecimento da autarquia e que medidas estavam sendo estudadas. Ontem, o presidente da entidade, José Natan Emídio Neto, também esteve na ponte e não gostou do que viu. “Vamos pedir ao Dnit uma análise de várias pontes, inclusive de outras no Rio das Velhas”, adiantou. Natan Neto estima que o desvio para veículos de carga podem aumentar a viagem em 150 quilômetros.

O empresário Jesu Caetano Fonseca, de 76 anos, acompanhou a construção da ponte, que durou de 1957 a 1959. Ele relata previsão feita à época pelo encarregado da obra que pode vir a se confirmar. “Perguntei para ele quanto tempo a ponte ia durar. Ele me respondeu que a durabilidade era de 50 anos”, relembra Fonseca. O prazo estipulado pelo encarregado se esgotou, pois já se passaram 51 anos. É óbvio que a manutenção em dia prolonga a vida útil da obra de arte, mas, pelo visto, tal medida não está sendo adotada pelo Dnit.”

O empresário teme que a mesma situação vivida por empreendedores de Santa Luzia, que ficaram ilhados e sem movimento nos negócios, ocorra em Nova União. “Vai afetar demais. O ponto de parada principal é aqui. Se isso ocorrer, será um prejuízo total”, salienta.

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“PARA LEMBRAR”

Dia 20
Às vésperas do feriadão da semana santa, ponte no Rio das Velhas, entre BH e Sabará, é interditada, com afundamento de piso, obrigando motoristas a longos desvios por áreas urbanas de Santa Luzia, Sabará e Caeté e pela BR-356, em direção a Ouro Preto de Ponte Nova.

Dia 21
Dnit anuncia R$ 50 milhões para construção de nova estrutura e começa a avaliar terreno para passarelas e pontes provisórias.

Dia 24
Exército libera passarelas para passagem para pedestres e anuncia construção de duas pontes metálicas para passagem provisória de veículos.

Dia 25
Na volta do feriado, motoristas enfrentam longos congestionamentos na BR-381.

Dia 26
Empresas transportadoras estimam em R$ 1 milhão prejuízos diários com desvios de caminhões.

Dia 27
Dnit prevê seis meses para construção de nova estrutura e estima prazo de até 60 dias para pontes metálicas provisórias.

Dia 30
Dnit anuncia pacote de emergência para recuperar estradas, avenidas e ruas sacrificadas com desvios.

Dia 1º
Direção-geral do Dnit visita obras e anuncia que em seis meses começa a duplicação da BR-381.

Dia 2
Iniciada a demolição da ponte, a ser concluída em 20 dias.

Dia 9
Dnit libera novas passarelas para pedestres, que substituem as do Exército. Prefeitura de Nova União revela ameaça de outra ponte no Rio Vermelho.


Fonte: Estado de Minas

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